quarta-feira, dezembro 01, 2010

Novas edições:
N.E.R.D., Nothing


N.E.R.D.
“Nothing”
Star Track / Universal
4 / 5

Talvez não estejam hoje sob o foco das atenções como outrora (e não foi assim há tanto tempo), mas o colectivo N.E.R.D. continua a mostrar como há pontes possíveis entre as linguagens do nosso tempo, dos diálogos e reflexões fora de portas acabando por nascer as verdadeiras linhas da grande invenção da música actual. E a palavra diálogo volta a ser elemento central à medula de um novo conjunto de canções que, além de assentarem sob um olhar atento de quem domina as artes da produção e da forma final dos sons (falamos do trabalho assinado via Neptunes, naturalmente), tem há muito a consciência da importância de quão um bom cardápio de ingredientes pode ter na hora de pensar o que se quer fazer. Através dos N.E.R.D. Pharell Williams e Chad Hugo, juntamente com Shay Haley, contribuíram significativamente para o alargar de horizontes de uma música que, tendo assimilado os métodos e essências do hip hop, partiu então à descoberta de novos caminhos. Dos olhares sobre os universos do rock dos primeiros tempos as atenções caminharam entretanto rumo a outros e mais vastos azimutes, Nothing traduzindo um ponto de vista de quem hoje sabe olhar ao seu redor, ousando avançar por caminhos que passam pelo funk (como em Party People, onde participa T.I. ou Perfect Defect, aqui com o brilho adicional de uma secção de metais), o electro (no saboroso Hypnotize U, colaboração com os Daft Punk), o rock clássico (de escola Doors, em Help Me), ecos pop dos sessentas (em Victory), ecos de memórias prog e de um certo sinfonismo, em sintonia com uma linha vocal de inspiração R&B (em Life As Fish), apresentando novas visões do que é um franco entendimento entre as genéticas do hip hop e as da canção em God Bless Us All ou Nothing On You (esta musculada por uma bela guitarra funk).E no fim não falta a cereja pop, com a participação de Nelly Furtado, em Hot-N-Fun. Nothing pode não representar, no cenário actual, o mundo de visões que nos dias de In Search Of... (2002) ou Fly or Die (2005) lhes valeram aclamação, mas está longe de ser um álbum menor do colectivo. Na verdade, é um belíssimo disco ao serviço de quem gosta de ouvir, ao longo do alinhamento de um álbum, mais que simples variações de uma mesma ideia de música e palavras.