sexta-feira, dezembro 10, 2010

Em conversa: Twin Shadow (3)


Continuamos a publicação de uma entrevista com Twin Shadow que serviu de base ao artigo ‘Com casa em Brooklyn mas a olhar o mundo’ publicado na edição de 13 de Novembro do DN Gente.

O teledisco de Castles In The Snow foi filmado em São Paulo…
Sim foi filmado no Brasil, em São Paulo. Não tive qualquer participação criativa naquele vídeo. O Jamie Hurley era um fã. Conhecia algum do seu trabalho. Ofereceu-se para fazer um teledisco. Eu não tinha tempo para fazer um, e ele mandou aquele. É perfeito… Ele ligou-se mesmo a algo que faz parte de mim e que admiro. E captou mesmo a energia da canção.

Parece recordar figuras a caminho de um qualquer concerto no CBGB em tempos idos. Chegou a conhecer e viver aquele clube mítico, que agora é uma loja de roupa?
Estive nessa loja de roupa há dias. Ainda não tinha entrado para ver o que tinham lá dentro. É estranho. Mas gosto desta ideia de ver o mundo a avançar porque está vivo. Detesto a ideia do mundo como um museu. Daqui a 100 anos alguém fizer um museu sobre Twin Shadow e o movimento em Brooklyn em 2010… O que é que se pode fazer enquanto ainda houver espaço no mundo?... A vida vive por si. Se um lugar como o CBGB tinha de morrer porque o movimento tinha que morrer, a música tinha de morrer… Mas há algo interessante a acontecer ao virar da esquina e as pessoas devem é ansiar por isso mesmo. Em vez de pensar em quão preciso o seu passado foi.

Ou seja, entende a memória como um ponto de partida e não como um fim em si?
Não o teria dito melhor… Muita gente diz que a minha música é nostálgica e não sinto nada isso.

O que mais ouve dizer sobre a sua música? E como reage?
Estou a gostar. É espantoso… É um sonho feito realidade. Porque desde antes de ter 16 anos era o que eu queria. Espero que as pessoas falem de mim porque estejam interessadas na música. E não porque tenham um trabalho numa agência e tenham de fazer com que se fale dela. Gosto de falar com as pessoas sobre música.

É como uma paixão a partilhar?
Sem dúvida. E sendo universal, todos podemos falar sobre música. Tenho a sorte de viver numa altura onde receber um telefonema de Portugal não é invulgar. E posso falar com pessoas de lugares onde nunca estive.

E o que sente quando ouve alguém a dizer algo sobre a música que não tenha nada a ver com o que pensa dela?
Sim, há sempre isso… Não achava que ia ter tantas referências aos anos 80. Não achava que tanta gente pensasse que Morrissey era o meu herói… OK, não me importo… Pensem o que queiram… Têm essa liberdade…

Tem heróis?
Já não tenho.

Desistiu de ter heróis?
Já não acredito nessa palavra. Penso que há grandes homens e grandes mulheres, houve grandes pessoas. Mas passei muita da minha juventude a olhar para o John Lennon como cantautor e intérprete. E, como tantos, apercebi-me que era apenas um homem… Mas não sei… Mas não olho para ninguém para o encarar como herói…

Acha, por exemplo, que muitos americanos não votaram recentemente nos democratas (nas eleições intercalares) porque, eventualmente, deixaram de ver Obama como um herói?
Penso que o problema foi que ele não era na verdade um herói. É uma pessoa que está a tentar agradar a todos… Quando se tem um herói há demasiado idealismo. Acham que o super-homem os vai apanhar sempre que tenham uma queda…