quinta-feira, dezembro 09, 2010

Em conversa: Twin Shadow (2)


Retomamos hoje a publicação de uma entrevista com Twin Shadow que serviu de base ao artigo ‘Com casa em Brooklyn mas a olhar o mundo’ publicado na edição de 13 de Novembro do DN Gente.

Um dos grandes desafios para o músico hoje, com mais de 50 anos de cultura rock, é o de saber reinventar. Qual é o maior desafio para si? Tentar soar a si mesmo?
Creio que esse desafio existiu sempre. Crescemos com tanta música nas nossas vidas que não podemos deixar de ser influenciados, não podemos evitar o passado. O punk foi afastar tudo e não soar a nada que tenha acontecido antes, ser uma nova música. Mas para mim o punk soa a canções do Phil Spector dos anos 50, de certa maneira… Não acho que se possa fugir de um passado musical. Quando se vive por 20 anos ouvimos esses 50 anos de rock’n'roll na música, mais a música clássica… Para mim não interessa fugir de nada ou esforçar-me para fazer algo novo. É mais tentar ser quem seu. Tentar traduzir quem sou através da música.

A música de alguém é o retrato de que ouviu, do que gosta, do que sente e sonha fazer?
Claro… É por isso que as pessoas gostam de material muito autobiográfico… E é também por isso que as pessoas se sentem também tão atraídas pela reality television. É um reflexo do pior de si mesmo, mas mesmo assim não deixa de ser um reflexo de si mesmos. Mas as pessoas sentem-se também atraídas pela fantasia. E há muito de fantasia e de magia neste disco. Muita esperança no futuro?

Vê a escrita de canções como uma forma de escrita de ficção?
Não tenho a certeza. Não sei. Penso muito sobre escritores e penso sobre se estaremos a fazer a mesma coisa… Acho que não é a mesma coisa. Ainda não cheguei a uma conclusão. Mas a música é uma coisa divina. Escrever numa linguagem para expressar qualquer coisa é incrivelmente importante. Mas a beleza da música é o facto de não exigir que se esteja perante uma pessoa inteligente ou uma pessoa que saiba ler ou reconhecer palavras numa página. É mais directo. Não digo que seja melhor, mas chega a mais pessoas. As emoções comunicam primeiro, Depois as palavras.

Emoção pelo som?
É todo um conjunto de elementos. Mesmo que não se entenda a língua que falo entende-se pelo modo que as digo. Acho que sim, pelo som…
(continua)