Afinal, de que depende a intensidade de uma comédia?
De alguns adolescentes estúpidos a dizer obscenidades? Porque não... mas é duvidoso que isso baste para sustentar uma narrativa.
De situações mais ou menos aparatosas, com personagens e objectos em permanente conflito? Certamente... embora uma história precise de cenas e contrastes, numa palavra, transfiguração.
De palavras bem humoradas? Sem dúvida... mas sabemos que é possível ser cómico sem abandonar uma pose de desconcertante seriedade.
Digamos, então, para simplificar que uma comédia precisa de figuras realmente humanas, quer dizer, personagens onde reconheçamos algo da nossa identidade mais funda (mesmo que essas personagens sejam extraterrestres...).
A Tempo e Horas/Due Date, de Todd Philips, é uma comédia com tudo isso: a história dos dois homens que são expulsos de um avião, vendo-se "forçados" a empreender, lado a lado, uma longa viagem de automóvel, possui os elementos básicos de uma história actualíssima, centrada nas evidências e ilusões com que comunicamos (ou julgamos comunicar) uns com os outros.
Pormenor não secundário: uma comédia precisa também dessa coisa maravilhosa que são os actores — e Robert Downey Jr. e Zack Galifianakis são fabulosos, relançando com subtileza e génio a tradição do par Jack Lemmon/Walter Mathhau.