sexta-feira, novembro 19, 2010

Três percursos por Viena


Foram três os percursos por Viena nos quais a Orquestra Gulbenkian nos conduziu, dirigida pelo maestro francês Jean-Claude Casadesus, vivendo de um confronto entre o tom festivo da abertura da opereta O Morcego, de Johann Strauss II e a intensidade dramática do Concerto para Piano e Orquestra nº 24 de Mozart e da Sinfonia Nº 4 de Mahler. Três peças que cruzam um arco de tempo com pouco mais de cem anos, transportando-nos a uma das capitais da invenção musical do seu tempo, numa noite com pontos de vista de quem, apesar de Viena não ser natural, comunicou naturalmente com os ecos da sua história.
O primeiro grande momento da noite chegou com a revelação do pianista francês David Kadouch (distinguido já este ano com um prémio Victoires de la Musique e que recentemente editou uma integral dos Prelúdios de Shostakovich). Fortemente aplaudido, agradecendo com encore não programado, Kadouch (na foto) assinalou belo diálogo com a orquestra num concerto de Mozart que chamou à sala primeiros sinais de uma melancolia que, depois, a música de Mahler aprofundaria. Orquestra e Casadesus abordaram então a Sinfonia Nº 4 que caminha de um allegro no andamento inicial rumo às assombrações do terceiro andamento, no quarto juntando-se à orquestra a voz da soprano ucraniana Olga Pasichnyk, da lamentação anterior nascendo então uma plácida sugestão de paz.