Rua Gagarin, do escocês Gregory Burke [foto], é um notável texto estreado em 2001, no Traverse Theatre, de Edimburgo. Peça eminentemente política, quanto mais não seja porque assombrada pela dificuldade contemporânea de fazer política, está agora em Guimarães, no Teatro Oficina, numa encenação tão austera quanto subtil de Marcos Barbosa, capaz de fazer valer a multiplicidade de temas e sugestões que a habitam.
Centrada no rapto mais ou menos rocambolesco de um executivo de uma fábrica multinacional, a peça coloca em cena quatro personagens — o raptado, os dois raptores e um segurança da fábrica — que definem uma insólita teia de contrastes: unidos e separados pelos fantasmas do "capitalismo" e da "revolução", vivem momentos de crua violência física e verbal, pendularmente atravessados por um desconcertante humor, contagiante, mas sem garantir a redenção de ninguém.
Apoiado num muito consistente colectivo de actores — André Teixeira, António Jorge, Emílio Gomes e Tiago Correia —, Marcos Barbosa propõe uma espécie de ritual dramático, verdadeiro jogo de espelhos sobre os temas da política herdados do século XX e seu angustiado esvaziamento simbólico. É um espectáculo que, em última instância, confronta o espectador com a sua própria solidão, questionando-se sobre o modo como a verdade do mundo oscila entre a pulsação da vida e o silêncio da morte — a descobrir, em Guimarães, até ao dia 7.