Gonzales
“Ivory Tower”
Gentle Threat
4 / 5
Reconhecido pela sua versatilidade (já o ouvimos como pianista, já o escutámos como MC), Gonzales estreou-se este ano no cinema, partilhando com Tiga ou Peaches o protagonismo em Ivory Tower, de Adam Traynor, que passou pelo programa da edição mais recente do festival de Locarno. Se do filme, que fala de uma rivalidade entre irmãos jogadores de xadrez que lutam, não necessariamente por resultados, mas por chegar às mais belas situações de jogo, não ouvimos falar muito, já da sua banda a sonora vale a pena deixar um registo. Ivory Tower é, de resto, uma obra que vale por si, sem a necessidade da caução das imagens ou da narrativa e personagens. É um ciclo de acontecimentos que toma o piano e as electrónicas como elementos num diálogo permanente (ao qual não estranha a presença, como produtor, de Alez Ridha, habitualmente referido como Boyz Noise). Sem um rumo de género definido, lançando antes sucessões de acontecimentos, o alinhamento passa por paisagens essencialmente cenográficas (como em Bittersuite ou Final Fantasy, onde passam ecos da música de um Philip Glass), assimilações entusiasmantes do legado do disco (como se escuta em Knight Moves, com vocalizações de Feist), em visões inesperadas (como num momento em que o disco se cruza com uma linha de piano à la Steve Reich em Never Stop ou, novamente com este mesmo compositor como referência, um mergulho em climas prog em Smoothered Mate) ou mesmo ocasionalmente visitando a canção (em The Grudge, com palavras sem filtro, no mais belo momento de todo o disco). Apesar da multidão de caminhos seguidos, o piano, mesmo quando na linha do horizonte, acaba por desenhar um fio condutor. Essencialmente instrumental, com pontuais intervenções vocais Ivory Tower chama a atenção para um talento na composição de música para o ecrã que o cinema não pode agora ignorar.
“Ivory Tower”
Gentle Threat
4 / 5
Reconhecido pela sua versatilidade (já o ouvimos como pianista, já o escutámos como MC), Gonzales estreou-se este ano no cinema, partilhando com Tiga ou Peaches o protagonismo em Ivory Tower, de Adam Traynor, que passou pelo programa da edição mais recente do festival de Locarno. Se do filme, que fala de uma rivalidade entre irmãos jogadores de xadrez que lutam, não necessariamente por resultados, mas por chegar às mais belas situações de jogo, não ouvimos falar muito, já da sua banda a sonora vale a pena deixar um registo. Ivory Tower é, de resto, uma obra que vale por si, sem a necessidade da caução das imagens ou da narrativa e personagens. É um ciclo de acontecimentos que toma o piano e as electrónicas como elementos num diálogo permanente (ao qual não estranha a presença, como produtor, de Alez Ridha, habitualmente referido como Boyz Noise). Sem um rumo de género definido, lançando antes sucessões de acontecimentos, o alinhamento passa por paisagens essencialmente cenográficas (como em Bittersuite ou Final Fantasy, onde passam ecos da música de um Philip Glass), assimilações entusiasmantes do legado do disco (como se escuta em Knight Moves, com vocalizações de Feist), em visões inesperadas (como num momento em que o disco se cruza com uma linha de piano à la Steve Reich em Never Stop ou, novamente com este mesmo compositor como referência, um mergulho em climas prog em Smoothered Mate) ou mesmo ocasionalmente visitando a canção (em The Grudge, com palavras sem filtro, no mais belo momento de todo o disco). Apesar da multidão de caminhos seguidos, o piano, mesmo quando na linha do horizonte, acaba por desenhar um fio condutor. Essencialmente instrumental, com pontuais intervenções vocais Ivory Tower chama a atenção para um talento na composição de música para o ecrã que o cinema não pode agora ignorar.