terça-feira, novembro 23, 2010

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Carlos do Carmo + Bernardo Sassetti,
Carlos do Carmo Bernardo Sassetti


Carlos do Carmo + Bernardo Sassetti
“Carlos do Carmo Bernardo Sassetti”
Universal
4 / 5

Duas gerações distintas, mas em cada um uma história semelhante no interesse em não se fechar dentro de fronteiras de uma só música. Carlos do Carmo dá a voz. Bernardo Sassetti, ao piano, assina os arranjos (o clarinete de Rui Rosa e o violoncelo de Filipe Quaresma pontuando depois alguns acontecimentos). O disco não tem um título senão o que resulta do juntar dos dois nomes que o protagonizam. Carlos do Carmo Bernardo Sassetti… Pelo alinhamento encontramos ecos de várias épocas e escolas, de versões de um Cantigas do Maio de José Afonso, Lisboa Que Amanhece de Sérgio Godinho ou Foi Por Ela, de Fausto Bordalo Dias a Quand On N’a Que L’amour de Jacques Brel ou Avec Le Temps de Léo Ferré. E há ainda uma surpreendente nova canção, composta por Bernardo Sassetti (para um poema de Mário Cláudio), em Retrato. A relação entre o canto e o piano encontra então um patamar de entendimento entre os mundos que se aqui cruzam. Bernardo Sassetti revela uma vez mais como de um saber jazzístico se pode partir rumo à aventura de outros caminhos. A magnífica e segura voz de Carlos do Carmo aceita então o desafio e junta-se ao piano em diálogos que transformam as canções em espaços de descoberta. Teria contudo sido um pouco mais interessante ver escolhas mais surpreendentes em algumas das opções de repertório (do cancioneiro de José Afonso, Sérgio Godinho ou Fausto haveria outras paragens alternativas que, certamente, sublinhariam o tom de desafio que o disco tão bem sabe lançar). Mesmo assim, no final, o encontro entre Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti é absolutamente compensador. E dá vontade de pedir um segundo episódio. Seja num disco de inéditos, que alargue os horizontes de um mundo que se espreita no Retrato. Ou num álbum de canções francesas, que siga a excelência da versão de Avec Le Temps, de Ferré. O certo é que, para já, este episódio gerou um dos melhores discos do ano.