Um dos grandes lançamentos do ano colocou nos escaparates nacionais o magnífico Winesburg, Ohio, de Sherwood Anderson. Este texto foi originalmente publicado na edição de 28 de Agosto do DN Gente.
No posfácio da edição que a Ahab lançou recentemente entre nós (com uma tradução de José Lima), John Updike compara Winesburg, Ohio, de Sherwood Anderson, à pintura de Edvard Munch. Em concreto, sublinha que o texto, que entretanto se transformou numa das maiores referências da literatura norte-americana, traça "o esboço de uma população, vista mais ou menos em corte transversal, de uma pequena cidade do Midwest", da mesma forma como os quadros de Munch "são retratos da classe média norueguesa na viragem do século". E conclui que, para ambos, o mais importante nos seus retratos "não são as roupas e os móveis ou sequer os corpos, mas o grito que em si escondem". O livro de pequenos contos, originalmente publicado em 1919, traduz ecos da vivência do próprio autor, que morou em Clyde, outra pequena cidade do mesmo estado norte-americano. Tomando a figura (ficcional) de George Willard, um jovem jornalista do local Winesburg Eagle, como observador, as histórias seguem, cada uma, episódios nas vidas de figuras de habitantes de uma imaginária Winesburg que Sherwood Anderson terá criado de ecos de gentes e histórias que conheceu na região. Inquietude e solidão, fé e medos, habitam entre estas histórias atentas a casos e figuras bizarras (e não são poucas em Winesburg!). Narrativas que não só sugerem o retrato de uma pequena comunidade como em conjunto captam a alma de um tempo na história da América profunda.