Ensaios de George Steiner publicados entre os sessentas e os setentas nas páginas da New Yorker Este texto foi publicado na edição de 16 de Outubro do DN Gente.
A colectânea de ensaios de George Steiner que a Gradiva recentemente publicou em George Steiner em The New Yorker cruza temas, gentes e lugares tão diversos como os da história de Albert Speer, o arquitecto (que também foi ministro de Hilter) que viveu preso 20 anos em Spandau, e uma análise espantosa sobre o histórico 1984, de George Orwell, passando por uma série de reflexões, com ponto de partida na cidade de Viena, sobre a música e a figura do compositor Anton Webern. O volume, que reúne uma série de artigos entre os mais de 150 que, entre 1967 e 1977, Steiner publicou na New Yorker, abre com a arrebatadora história de uma traição política. Com o título O Sacerdote da Traição, o longo artigo evoca a figura do inglês Antony Blunt (1907-1983), importante historiador e crítico de arte denunciado, em plena Guerra Fria, como espião em favor dos soviéticos. Steiner começa o seu "retrato" lembrando o então jovem crítico de arte Anthony Blunt, que, num artigo publicado em 1937, criticava negativamente a Guernica, de Picasso, e um outro texto, de 1938, em que dizia do pintor catalão ser "do passado". O contraste chega com a memória de uma conferência de 1966 onde o agora professor Anthony Blunt "admitia desta feita a dimensão da obra e a sua composição genial". O jogo de contrastes que encontramos em duas formas de olhar um quadro é assim ponto de partida para uma narrativa que nos revela o ambiente em que toda uma geração de espiões foi recrutada e, mais tarde, desvendada.