quarta-feira, novembro 17, 2010
Em conversa: Vampire Weekend - 2010 (3)
Continuamos a publicação de uma entrevista com Chris Baio, dos Vampire Weekend, que serviu de base ao artigo ‘Quando o espectador faz a diferença’, publicado na edição de 10 de Novembro do DN.
Os primeiros textos publicados sobre os Vampire Weekend falavam da influência da música africana. Acha que essas primeiras referências acabaram por se transformar num rótulo?
É curioso ler o que se disse sobre nós. O nosso primeiro single foi o Oxford Comma e o Cape Cod (Kwassa Kwassa) e este último, particularmente, é a influência afro pop mais evidente do nosso primeiro disco, mas isso valeu logo de termo de referência para o álbum inteiro. Creio que é assim que acontece com qualquer banda… É mais fácil reduzir um artista a uma ou duas influências, quando creio que na verdade a forma como as pessoas reflectem sobre a sua é bem mais complexa. Há referências mais profundas na música que os Joy Division, mas são eles que acabam sempre por ser referidos. É uma forma natural das pessoas compartimentarem o que ouvem. Não me sinto frustrado… Gosto de sentir que as pessoas que falam da nossa música o fazem porque ela os interessa. Mesmo que a forma como dela falam não me pareça que seja a mais representativa. Mas posso viver bem com isso…
Outro dos rótulos que vos é aplicado tem a ver com a vossa imagem, a universidade em que estudaram e uma vivência que não é de classe trabalhadora…
São ideias muito básicas… Essas que dizem que as estrelas rock vêm da classe trabalhadora… Penso no Mick Jagger, que esteve na London School of Economics… Esse é um passado que na verdade não é muito diferente do de nós os quatro. E as pessoas não olham para os Rolling Stones como música de miúdos ricos. São o paradigma do rock’n’roll. Mas as mesmas pessoas poderiam dizer isso sobre nós. Isto tem a ver com a percepção que as pessoas têm do que é a música rock, uma banda rock e de onde vem. No fundo, isso não me incomoda. Acho que ter tido uma boa educação não é coisa má em nenhuma área! Há já dois anos que isso não me incomoda, e já me diverte até.
Como americano, o que diz dos recentes resultados nas eleições intercalares? Há uma mudança de maré…
É aflitivo, para mim. Porque acho que muitas pessoas votaram contra os seus próprios interesses. Mas, no fim, eu sabia que isto ia acontecer. Nunca se concorda absolutamente com nenhum governo. Pode até sentir-se uma frustração com alguma da sua agenda. Mas no fundo prefiro os democratas, à falta de alternativa. Espanta-me que apenas 11 por cento das pessoas da minha idade tenham votado nestas eleições. E creio que isso foi por falta de um discurso convincente sobre a mudança. As pessoas da minha idade ignoraram a eleição. Isso para mim é uma frustração..
Terá a ver com hábitos de gratificação imediata? Ou seja, não houve a mudança imediata, as pessoas desistiram… Mudaram de canal…
Isso pode ser parte da explicação do facto de tanta gente da minha idade não ter votado. Creio que as pessoas mais velhas, que lutam pela sua vida económica, olharam para quem estava no poder e castigaram-no porque as coisas não mudaram. Votaram no outro partido e por isso houve esta mudança tão dramática. As coisas podem mudar nos próximos dois anos. Mas por não terem mudado desde que Obama tomou posse foi por isso que os resultados foram o que foram.
Os músicos foram importantes na eleição de Obama. Já tinha havido uma mobilização em 2004, para John Kerry. Mas cabe aos músicos um papel importante na mobilização das pessoas?
Para ser honesto acho que muitos músicos, sobretudo no mundo em que nós circulamos, estão como que a pregar para os que estão já convertidos. Nós participámos em alguns concertos de recolha de fundos para a campanha há dois anos, mas não creio que o nosso envolvimento mude o que uma pessoa possa pensar. Por isso não sinto que possa reclamar algum crédito na bem-sucedida eleição de Obama há dois anos.