segunda-feira, novembro 15, 2010

Em conversa: Vampire Weekend - 2010 (1)


Iniciamos hoje a publicação de uma entrevista com Chris Baio, dos Vampire Weekend, que serviu de base ao artigo ‘Quando o espectador faz a diferença’, publicado na edição de 10 de Novembro do DN.

Há dois anos, os Vampire Weeend eram uma grande esperança para os seguidores do universo indie. Agora têm um estatuto global… O que mudou no mundo à vossa volta e em vocês mesmos?
Creio que mudámos de muitas maneiras, mas no fundo não deixámos de ser os mesmos. É uma loucura pensar o que aconteceu quando o nosso primeiro álbum saiu. Tivemos números das vendas de discos em países de todo o mundo, e de Portugal, na primeira semana, vendemos uma cópia. Foi engraçado!... Uma cópia… E este verão passámos por um festival perto de Lisboa e estavam aí umas 20 mil pessoas que foram um público incrível. São mudanças que acontecem ao longo de um percurso. Trabalhamos muito… Na estrada, ao fazer o segundo disco e até ao fazer o primeiro. O negócio à nossa volta, que é parte do que é estar numa banda, cresceu e cresceu. Nas nossas primeiras digressões éramos apenas nós os quatro numa carrinha. Agora vamos estar na estrada com dez pessoas na nossa equipa, o que faz disto uma operação necessariamente diferente. Cresceu. Ao mesmo tempo, quando estamos os quatro em palco, a trabalhar na nossa música, somos nós os quatro na mesma. E não creio que tenhamos mudado a forma de trabalhar quando fizemos o segundo disco. Não sentimos que nada fosse mudar assim tanto… No início havia mais o sentir das saudades de estar longe de casa por longos períodos de tempo… Mas já me habituei a estas rotinas das digressões e das viagens… Mas no fundo sou sempre a mesma pessoa.

A ideia das expectativas que podem ser fonte de ansiedade para quem teve sucesso muito cedo está entre as vossas preocuopações? E como vivem o vosso quotidiano com uma agenda com o tempo sempre ocupado… Ainda têm horas livres para pensar nas canções novas que querem fazer? Há tempo para pensar?
Creio que estamos sempre a pensar na nossa música e a pensar que direcções podemos tomar. Mas neste momento temos menos ideias sobre o que vai ser o nosso terceiro disco do que, há uns dois anos, tínhamos sobre o que iria ser o segundo. Tínhamos algumas canções escritas na forma de esboços. Agora não temos trabalhado na música e até estamos à espera de poder fazer um retiro. Chegar a casa… E depois ficar entusiasmados com novas coisas e ser novamente criativo. O ciclo ligado a este disco tem sido muito intenso. Não tivemos três semanas de paradas… Não estive em casa mais que seis dias seguidos ao longo do ano. Pelo que sinto que estamos um pouco cansados. Estamos a fazer esta última etapa da digressão… Ainda vai levar algum tempo antes de fazermos um terceiro disco. Queremos estar inspirados… E penso que desta vez vai levar-nos mais algum tempo que o que Contra nos pediu.

E têm tempo para ouvir outras músicas, que não apenas as que têm de tocar todas as noites?
Agora, quando viajamos de camioneta, ao acordarmos numa nova cidade temos umas horas para nós mesmos. Podemos fazer o download de filmes e séries nos nossos computadores, que era uma coisa que antes não se podia fazer há uns 15 anos. Podemos ver programas de televisão, ouvir música, ouvir podcasts… É mais fácil até fazer isso quando estamos em digressão que quando estamos num carro, sentados horas a fio no trânsito. E é possível sentir inspiração. Talvez não esteja a ler e a ouvir tanta música quanto o que gostaria de fazer…

(continua)