Não é a primeira vez que os vemos em parcerias inesperadas (ou nem por isso). Mas convenhamos que, mais que nunca, acertaram ambos! Love Songs junta, num mesmo álbum, a mezzo soprano sueca Anne Sofie Von Otter e o pianista norte-americano Brad Mehldau… Um CD duplo para voz e piano que apresenta no disco um um ciclo de canções assinadas por Brad Mehldau expressamente compostas para a voz da cantora e, no segundo, uma mão cheia de versões que passam por autores tão diferentes como Jacques Brel, Michel Legrand, Barbara, Joni Mitchell, Leonard Bernstein ou a dupla Lennon/McCartney. O disco representa a estreia da cantora no catálogo da editora francesa Naïve Records. O segundo disco de Von Otter para a sua nova editora será, em 2011, um disco com árias de óperas francesas, na companhia de Marc Minkowski.
É desde já um dos grandes discos do ano, este encontro entre um dos melhores pianistas de jazz do nosso tempo e uma das cantoras líricas de mais interessante carreira dos nossos dias. Mehldau já tinha gravado em 2006 Love Sublime, um álbum de canções com René Flemming. Von Otter já tinha editado, com Elvis Costello, o espantoso For The Stars, uma das suas várias aventuras fora do espaço da ópera e lieder em que tem definido a sua obra. Love Songs é em todos os sentidos um feito. Por um lado revela um entendimento espantoso entre voz e piano nas canções originais que o CD1 nos apresenta. Por outro, soma experiências e troca memórias num CD2 feito de uma série de versões que partiram de desafios e sugestões cruzadas, dos gostos e entusiasmos de cada um surgindo uma série de pontes que ambos resolvem num belíssimo ciclo de versões que passam pela tradição da canção francesa (Ferré, Barbara, Brel ou Legrand, este revisitado numa das canções de Les Demoiselles de Rocheford), por vivências em sueco (Ahlert e Färnlöf) ou em inglês (Beatles, Bernstein ou Joni Mitchell). A história do disco começa quando, por ocasião de uma passagem por Nova Iorque, Anne Sofie Von Otter deu por si, em casa do pianista, a beber chá e a discutir um possível trabalho em conjunto para um recital… Ambos conhceiam o trabalho um do outro… Love Songs é o resultado de um diálogo vivido entre partilhas e descobertas. Para um pianista de jazz que já levou a música dos Radiohead no seu repertório e para uma cantora lírica que já gravou Abba, Love Songs é mais uma expressão de uma visão que vive acima das fronteiras de género e liberta dos medos paroquiais que muitas vezes fecham grandes talentos em pequenos espaços. Este é o caminho.
Imagens de um pequeno documentário sobre a participação de Anne Sofie Von Otter em Love Songs.