Yazoo
“Reconnected Live”
Mute
4 / 5
Tinham a mesma idade, viviam na mesma cidade, tinham até passado pela mesma escola de música nas manhãs de sábado… Um dia, com uma canção nova na mão e um adeus aos Depeche Mode (de que fora um dos fundadores) na agenda, Vince Clarke telefonou a Alison Moyet. Gravaram Only You… Seguiram-se dois álbuns. E, ainda estavam a terminar as canções do segundo, já os caminhos de cada um apontavam rumos distintos. Ela desejava a estrada. Ele nem por isso… Os Yazoo tiveram assim vida curta, Alison Moyet encetando carreira a solo, Vince Clarke acabando por encontrar nos Erasure o destino que procurava. Da memória do duo ficaram dois álbuns – Upstairs At Eric’s (1982) e You Me Both (1983) – que o tempo acabou por apontar como referências maiores da primeira geração da pop electrónica britânica… O ciclo, contudo, nunca se tinha fechado. Haviam dado apenas 24 concertos entre os dois álbuns e, já separados quando o segundo saiu, acabaram por nunca apresentar em palco muitas das suas canções… Alison enviou um email a Vince, perguntando-lhe se desejaria levar as canções, tantos anos depois, para a estrada. Respondeu que não… Mais tarde nova resposta chegou diferente. Ele tratou de regravar todos os fundos instrumentais. Ela pensou na imagem. E em 2008 regressaram, dando uma série de 28 concertos (mais que todos os que haviam apresentado nos oitentas), dos quais este álbum duplo ao vivo é um retrato. Convenhamos que, soassem assim, as reuniões até valeriam a pena. Os instrumentais, sem mudar linhas nem registos de som, estão mais sólidos e quentes. A voz de Alison não perdeu força e ganhou profundidade. O resultado é como uma viagem no tempo à verdade de uma música com 30 anos de vida mas sem fingir que houve um tempo que passou. O viço pop de Don’t Go, Walk Away From Love ou Bad Connection (de fora do alinhamento ficou The Other Side Of Love), a face menos luminosa de In My Room ou a pujança ainda viva de um Situation (numa leitura a sublinhar as vitaminas dançáveis da canção) não esmoreçaram. Reconnected Live é assim uma colecção de memórias evocadas com sobriedade nas formas e sem vontade de juntar novos temperos (onde de facto não fazem falta). E não deixa dúvidas sobre porque, 30 anos depois, ainda há muito boa gente a encontrar nestas canções referências para continuar a inventar o presente de uma música que sempre gostou de encarar o futuro.