quarta-feira, outubro 13, 2010
Novas edições:
Matthew Dear, Black City
Matthew Dear
“Black City”
Ghostly International
4 / 5
Produtor, DJ e também editor discográfico, Matthew Dear tem uma obra que ultrapassa já os dez anos de discos (ora seus, ora remisturando nomes como, por exemplo, os Hot Chip, Postal Service, Chemical Brothers ou Charlotte Gainsbourg). Em 2007 Asa Breed chamou atenções pela forma como se propunham novas visões pop cientes da assimilação de vivências e formas mais próximas das linguagens da música de dança. A história continua agora em Black City, contudo mergulhando mais que nunca pelos lados mais escuros da noite, propondo um retrato de vivências e espaços de uma cidade já fora de horas. A formação de Matthew Dear (natural do Michigan mas que cedo se viu em Detroit) deve muito a uma exposição marcante face aos domínios das electrónicas e das formas primordiais do techno em particular. O seu gosto ganhou forma juntando referências que vão de um Brian Eno aos Nitzer Ebb… E em Black City todos esses caminhos confluem num espaço no qual podemos ainda reconhecer eventuais afinidades com a face mais sombria dos álbuns “berlinenses” de Bowie, com um Remain In Light, dos Talking Heads ou mesmo ecos de um registo urbano sombrio que, em finais dos setentas, ficou conhecido como cold wave. As electrónicas são ferramentas essenciais numa música que é suportada por uma arquitectura rítmica directamente herdada de linguagens definidas pelos métodos da dança, mas que aponta ao desejo de ter a canção como destino inevitável. E entre o geometrismo algo kraftwerkiano de um Shortwave ou o lirismo desencantado (muito à la Brian Eno) de um Gem (um dos mais belos momentos do disco) desenha-se um percurso que, mais que narrativo ou descritivo, traduz uma ideia de noite urbana habitada por dúvidas, medos e solidões. É um disco que pede tempo. Mas qualquer regresso é sempre compensado.