quinta-feira, outubro 14, 2010

Novas edições:
Marc Almond, Varieté


Marc Almond
“Varieté”

Cherry Red / Mbari
3 / 5

Um acidente de viação em 2004 fez temer o pior. Mas em menos de um ano Marc Almond estava de regresso aos palcos. E não muito tempo havia discos na sua agenda de trabalho. Em 2007 Stardom Road apresentava uma colecção de versões. Em 2009 novo disco de versões em Orpheus In Exile - Songs Of Vadim Kozin, desta vez retomando o modelo em tempos ensaiado em Jacques, focando a selecção em torno da obra de um só músico. Varieté que, por ser editado em 2010 assinala também os seus 30 anos de carreira discográfica (uma vez que data de 1980 a sua estreia dos Soft Cell) é o seu primeiro disco de originais posterior ao acidente (e, na verdade, o primeiro disco de canções de sua pena que nos dá desde Stranger Things, de 2001 (no qual era, pelo menos, co-autor da maior parte do alinhamento). É um disco muito pessoal, retomando uma série de temas que são transversais à sua obra, da autobiográfica revisitação de espaços e episódios que ouvimos em Trials Of Eyeliner ao reencontro com cenários presentes na sua escrita desde os dias dos Soft Cell em Soho So Long. Os tempos em mudança, o envelhecimento e uma já recorrente obsessão pela noção de nostalgia habitam canções que retomam uma relação com uma ideia de música de cabaret que começou a ganhar forma na obra de Almond em inícios dos oitentas com o projecto paralelo Marc And The Mambas (através do qual gravou, em 1983, Torment and Toreros, um dos seus melhores discos). Com o piano como primeiro parceiro da sua voz e arranjos ora simples ora mais sumptuosos, Varieté é herdeiro dos caminhos mais “clássicos” que Almond seguira nos álbuns que editou nos anos 80, sendo de certa forma o sucessor, nunca até aqui criado, de The Stars We Are (1988). Não repete o patamar alcançado nesse disco ou dos anteriores Vermin in Ermine (1984), Stories Of Johnny (1985) ou Mother Fist & Her Five Daughters (1987), mas é o melhor disco de Almond desde Open All Night, de 1998 e tem em My Nijinsky Heart uma das suas melhores canções de sempre.