sexta-feira, outubro 29, 2010
Luminosa placidez
Não foi por encomenda que surgiu, mas por gosto do compositor em criar uma missa de requiem. Estreado na igreja de La Madeleine, no centro de Paris, em Janeiro de 1893, o Requiem de Gabriel Fauré (1845-1924) surgiu na sequência de dois episódios de perda. A do pai, em 1885 e, dois anos depois, a mãe (precisamente no ano em que lançou as mãos à obra). Mais que temor, é melancolia o que encontramos nesta música. Uma ideia de descanso etermo, e não necessariamente o eventual confronto com o castigo ou perdão… É uma missa de requiem diferente de tantas outras. Plácida e íntima, reflectindo não apenas marcas da personalidade do compositor, mas também a sua visão sobre o sentido da morte. O próprio terá comentado, quando confrontado com uma opinião que havia descrito o seu Requiem como uma canção de embalar para os mortos, que encarava essa partida não como uma experiência de dor, mas de entrega pacífica.
Foi em busca dessa placidez luminosa que o maestro Rolf Beck conduziu, discreta e tranquilamente, a Orquestra e um Coro Gulbenkian em grande forma, a quem se juntaram os solistas Ana Quintans e Luís Rodrigues. O programa incluíu ainda (e novamente com a presença do coro) o Gloria em Ré maior de Antonio Vivaldi e, com magnífica contribuição do organista Yves Rechsteiner, o Concerto para Órgão, Orquestra de Cordas e Timbales, em Sol menor, de Francis Poulenc.