Entre os vários títulos lançados nas últimas semanas, a propósito do centenário da implantação da República, Diário dos Vencidos é talvez o mais surpreendente. E porquê? Porque, o tempo ensinou-nos, a história habitualmente é relatada pelo ponto de vista dos vencedores. E o que aqui lemos é precisamente o contrário. Ou seja, um relato dos acontecimentos entre os dias 3 e 5 de Outubro de 1910 vividos entre monárquicos, dos oficiais que se mantiveram fiéis à coroa a altas figuras do estado e, claro, a própria família real.
Os textos são na verdade antigos, publicados pouco depois dos acontecimentos (ou seja, já em plena República) pelo jornalista Joaquim Leitão, um monárquico convicto que, perante as notícias da revolução saiu a 5 de Outubro de 1910 do Porto rumo a Lisboa para se inteirar dos factos, iniciando aí a recolha de olhares, palavras e reflexões que lhe permitiram este olhar absolutamente revelador sobre o fim da monarquia portuguesa. Com Prefácio de Vasco Pulido Valente, o Diário dos Vencidos (edição Aletheia) é assim um precioso contributo jornalístico para um correcto e mais amplo retrato sobre os acontecimentos que tiveram lugar há precisamente cem anos. De uma leitura destas várias crónicas e entrevistas sente-se sobretudo uma enorme solidão e uma progressiva atitude de desistência (salvo as excepções, naturalmente, que as houve) entre os mais próximos do poder real. O relato do bombaredeamento ao Palácio das Necessidades a 4 de Outubro, por exemplo, sublinha essa ideia de abandono. Dava um filme…