quinta-feira, setembro 09, 2010

Seguir o mundo num ecrã


Num ano apenas o cinema uruguaio, uma das menos divulgadas das cinematografias latino-americanas, abre algumas janelas para com as plateias portuguesas. E assim, depois de Whisky (filme de 2004 de Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll) e de El Cuarto de Leo (filme de 2009 de Enrique Buchicio que passa dentro de dias no Queer Lisboa 14), eis que hoje estreia Gigante, a primeira longa-metragem de Adrian Biniez (o realizador é de origem argentina mas a produção é uruguaia). Vivendo mais de silêncios e olhares que de diálogos, Gigante é a história de um vigilante de supermercado com alguns valentes quilos a mais e uma paixão pelo heavy metal, cujo solitário dia a dia é passado em longas maratonas frente aos monitores de segurança numa cabine quase às escuras. O seu mundo é assim focado nas imagens que segue através dos monitores. É é nesse pequeno ecrã que concentra as atenções numa colega que trabalha no mesmo supermercado. E, depois das horas de trabalho, não tendo mais uma câmara para a acompanhar, segue-a pelas ruas da cidade. Jara (assim se chama o vigilante, interpretado por Horacio Camandule) não é um stalker, na verdade limitando-se a seguir Julia (Leonor Svarcas) porque não tem coragem para lhe falar.

Gigante não é exactamente mais um filme sobre os silêncios que ensurdecem as vidas transformadas em incessantes rotinas de tantos anónimos que partilham o espaço na cidade, mas antes uma pequena história sobre timidez. E, ao contrário de muitos olhares cavados em desencanto, Gigante é iluminado por um sentido de esperança, os discretos instantes onde se abrem frestas ao humor contribuindo discretamente para o tempero final do filme.



Imagens do trailer de Gigante