sexta-feira, setembro 10, 2010

Novas edições:
Art Of Noise, Influence


Art Of Noise
“Influence”
ZTT / Salvo
4 / 5

Uma das mais visionárias experiências que a pop conheceu nos anos 80, os Art of Noise nasceram de uma série de experiências de estúdio envolvendo profissionais da equipa de produção de Tevor Horn que então trabalhavam num álbum dos Yes… Uma ideia musical feita de colagens chamou a atenção do ex-Buggles, que ao engenheiro de som Gary Langan e ao programador J.J. Jeczalik, juntou os arranjos de Anne Dudley e as visões do jornalista Paul Morley. A ZTT Records (que pouco depois revelaria nomes como os dos Frankie Goes To Hollywood, Propaganda ou Anne Pigalle) conhecia então neste colectivo um pequeno laboratório através dos quais se talhou um paradigma que serviu de primeira expressão da ideia que a editora queria lançar no panorama pop do seu tempo. Nasciam os Art Of Noise que, com o seu álbum de estreia Who’s Afraid Of The Art Of Noise (1984) colocavam em cena um dos mais inventivos discos da década, alargando os horizontes da pop a novos patamares de experimentação, algumas das suas técnicas e sugestões acabando entretanto assimiladas pelo universo ao seu redor. Um conflito interno afastou-os de Horn, de Morley e da própria ZTT Records, seguindo caminho numa outra editora na qual, ao longo da segunda metade da década somaram mais uma mão cheia de importantes episódios de visão pop, aliando novamente um sentido de ousadia formal a uma alma de clara identidade pop em álbuns como In Visible Silence (1986) e In No Sense? Nonsense! (1987) e singles como Peter Gunn ou uma bem sucedida versão de Kiss (de Prince) com a voz de Tom Jones. Separados depois do inconsequente Below The Waste (1989), passaram a década de 90 a ver a sucessiva edição de antologias. Até que, reunidos (novamente com Horn e Morley a bordo) gravaram em 1999 o álbum The Seduction of Claude Debussy… Influence não é, está visto, a primeira antologia dos Art Of Noise. De resto, ainda há quatro anos a caixa And What Have You Done With My Body, God? Procurava um olhar profundo sobre a etapa inicial de vida do grupo, revelando uma série de inéditos que ajudam a relatar a história de uma aventura que, como poucas, soube de facto reinventar a pop. Na verdade, nos campos da pop electrónica, poucos além dos Kraftwerk ou Yello souberam, como os Art Of Noise, aliar uma evidente agenda experimental a uma identidade pop com projecção mainstream. Então que traz de novo Influence? Arruma num primeiro CD uma história completa dos singles editados (e mais alguns extras) para um olhar retrospectivo. No segundo, acrescenta raridades (e mesmo inéditos) que completam o retrato. E junta um extenso booklet com informação histórica útil e imagens que ajudam a relatar esta narrativa. Para os admiradores, na verdade, não acrescenta muito ao que podem já conhecer. Para os que agora os descobrem é, mais que os best of de finais de 80 e inícios de 90, o cartão de visita ideal para descobrir um nome-chave na história da pop pensada com electrónicas.