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Graças a uma política sistemática de preservação e restauro, os filmes de Greta Garbo (tal como, de um modo geral, os grandes clássicos dos estúdios da Metro Goldwyn Mayer) estão bem representados no mercado do DVD. Os sete títulos agora lançados retomam, em parte, os conteúdos de uma caixa lançada entre nós em 2005. Nessa caixa de seis filmes incluía-se Grand Hotel (1932), de Edmundo Goulding, o único que não reaparece. Os outros cinco, de novo disponíveis, são: Mata Hari [foto], Rainha Cristina, Anna Karenina, Margarida Gautier e Ninotchcka. Vale a pena sublinhar que a edição de Margarida Gautier inclui uma outra lendária adaptação de A Dama das Camélias, neste caso do período mudo: trata-se de Camille (1921), de Ray C. Smallwood, com Rudolph Valentino no papel de Armand Duval e Alla Nazimova como Margarida.
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>>> Site oficial de Greta Garbo.
No tempo de Greta Garbo, as coisas estavam longe de ser tão evidentes: para a jovem a quem os pais chamaram Greta Lovisa Gustafsson (nascida em Estocolmo a 18 de Setembro de 1905), a possibilidade de se transformar numa verdadeira deusa de Hollywood não passaria de uma utopia radical.
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Estava-se em 1924 e partir daí tudo aconteceu muito depressa. Tendo visto A Lenda de Gösta Berling em Berlim, Louis B. Mayer não hesitou em convidar o realizador e a actriz para trabalharem nos estúdios da Metro Goldwyn Mayer. Ainda assim, a aventura americana de Garbo não começou da melhor maneira e o projecto em que foi dirigida pelo próprio Stiller, A Tentadora (1926) teve uma rodagem atribulada, a ponto de Mayer se desentender com Stiller, substituindo-o por Fred Niblo.
Em 1930, veio o teste decisivo que, na época, destruiu muitas carreiras. Ou seja: o som. A estreia ocorreu com Ana Cristina, uma adaptação da peça de Eugene O’Neill (Prémio Pulitzer de drama de 1922) dirigida por Clarence Brown. O sucesso foi enorme, conferindo uma dimensão lendária à própria frase promocional com que o filme foi lançado: “Garbo talks!”, à letra, “Garbo fala!”.
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Que faz com que uma estrela decida deixar de filmar aos 36 anos? As respostas, ainda hoje, envolvem alguma margem de especulação. É certo que Garbo não se retirou de forma tão abrupta como, por vezes, se refere. Em 1948, chegou mesmo a fazer testes para a adaptação de um livro de Balzac, La Duchesse de Langeais, sob a direcção de Max Ophüls, mas problemas de financiamento inviabilizaram o projecto. A pouco e pouco, descrente no futuro do cinema (tal como ela o viveu), foi escolhendo uma vida de austera reclusão que, apesar dos actos mais ou menos falhados de alguns papparazzi, manteve até ao seu falecimento, em Nova Iorque, a 15 de Novembro de 1990.