sábado, setembro 18, 2010

A estreia de um novo compositor


Este post é junta dois textos originalmente publicado na edição de 4 de Setembro do DN Gente com os títulos 'Um compositor para o nosso tempo' e 'Um disco para dois pianos'

Uma consulta ao blogue que encontramos no site oficial de Timothy Andres mostra posts onde se fala de bicicletas, de um sumo que mistura laranjas, limas, limões e toranjas, de recordações de um concerto recente dos Arcade Fire no Madison Square Garden (Nova Iorque) ou um vídeo do YouTube com música de Charles Ives. Ocasionalmente, refere a sua própria música, ora para confessar que leu uma má crítica sobre Shy and Mighty (o seu primeiro disco, recentemente editado pela Nonesuch), ou para chamar a atenção para a estreia de um grupo de músicos no qual está integrado e que se apresenta como Sleeping Giant. Nascido em 1985, Timothy Andres é um compositor do nosso tempo. E por isso usa as ferramentas de comunicação do presente, partilhando com os que o ouvem, além da música, os elementos, lugares e histórias que fazem o seu do dia-a-dia. Afinal, é um cidadão do mundo em pleno século XXI.

Cresceu no Connecticut rural e vive há já algum tempo em Brooklyn (Nova Iorque). Era, como confessa em entrevista no booklet do disco, "uma criança problemática", lembrando que a sua escola "não gostava da ideia" de o ver a passar muitas horas ao piano. Frequentou uma escola vocacionada para as artes que abandonou aos 16 anos, optando por ficar um ano a trabalhar na sua música, em casa, antes de se candidatar à universidade. A sua formação musical fê-lo passar pela Julliard School of Music e, mais tarde, pela Universidade de Yale. E foi aí que, a um interesse original por compositores como Bartók, Mahler, Ives, Copland ou Bernstein, acrescentou uma admiração pela música de nomes como os Radiohead, Brian Eno, Boards of Canada, Múm, LCD Soundsystem ou Sigur Rós. Como descreve na mesma entrevista no booklet do CD, os seus dois primeiros anos na universidade corresponderam "a uma combinação da descoberta dos minimalistas e da música pop em simultâneo". Assimiladas todas estas descobertas, sentiu uma necessiade de compor de forma diferente. Shy and Mighy surge de resto nesta linha de pensamento.

Alex Roos (autor de O Resto É Ruído) afirmou já que a sua música atinge uma grandiosidade "que não se ouvia na música americana desde John Adams", mas frisa que Timothy Andres "soa a si mesmo".

As mais antigas composições de Timothy Andres (consultando a lista publicada no seu site) remontam a 2004 e incluem trabalhos para grupos de câmara, música para vozes, cinco peças para orquestra e uma série de obras para piano. E é para piano, em concreto para dois pianos, a música que apresenta em Shy & Mighty. A ideia nasceu de um possível trabalho no seu último ano na universidade. Nos últimos tempos tinha estado a ouvir mais música no formato de álbum que propriamente peças com vida independente. O formato do álbum é, como o próprio músico reconhece, uma realidade mais frequente na pop que na música clássica, sendo Glassworks, disco de 1982 de Philip Glass, um exemplo que podemos apontar entre as excepções à regra. Foi com a ideia de compor um álbum para dois pianos que se lançou ao trabalho. E, como o compositor confessa no booklet que acompanha o disco, os álbuns que o terão inspirado foram Black Foliage dos Olivia Tremor Control e Music Has The Right To Children, dos Boards of Canada, em concreto ao nível da estrutura maior de uma obra feita de peças intervaladas por outras mais curtas, sugerindo transições. O disco apresenta dez composições interpretadas pelo próprio e por David Kaplan.



Imagens de uma actuação de Timothy Andres e David Kaplan em Nova Iorque, onde interpretam Night Jaunt, do álbum Shy and Mighty.