sexta-feira, setembro 03, 2010
Em conversa: Perfume Genius (3)
Continuamos a publicação de uma entrevista com Mike Hadreas, que acaba de lançar Learning, um primeiro álbum como Perfume Genius. A entrevista serviu de base ao texto ‘As confissões de uma alma solitária’ publicado na edição de 7 de Agosto do DN Gente.
Learning é um disco é curto, e logo por isso um tanto diferente das tendências actuais de fazer álbuns longos... As próprias canções são curtas...
Há pessoas que sabem fazer discos grandes, como a Joanna Newsom, por exemplo, que as pessoas vão ouvir... Mas acho que não seri nunca daquelas pessoas que voltam às canções para as retrabalhar. Tento ser honesto comigo mesmo, no sentido que deixo ficar aquilo que surge originalmente. Houve alturas em que pensei regravar algumas canções, em mexer nelas, torná-las mais longas, mas acabei por não o fazer...
Quão próximas estão então das maquetes originais?
Gostaria de dizer praticamente 100%. É mesmo intencional. Não sei se as pessoas gostariam que as canções fossem maiores. Poderia gravá-las num outro estúdio, até podia ter oportunidade para o fazer, mas não me agrada a ideia. Estão muito parecidas como ficaram no dia em que as criei.
Sem maquilhagm?
Sim, sem maquilhagem. Só há maquilhagem na foto promocional.
Tinha mais canções?
Estão arrumadas quase cronologicamente no disco. Mas não tinha uma fórmula para decidir as que ficavam ou não no disco. Não pensei se umas teriam mais sucesso ou se chamariam mais a atenção de certos públicos.
O título do álbum refere a canção ou algum sentido em particular de aprendizagem?
Quando estava a alinhar as canções, cronologicamente, ouvia-as de seguida no carro. E cheguei a pensar chamar ao disco Tough Night... Mas parecia o título de um disco de metal...
O que aprendeu ao editar estas canções?
Creio que aprendi que as circunstâncias não mudam a forma como me sinto. Ou de como tomo as decisões do dia a dia. De como ser aberto, de procurar resolver o que acontece... Há uma parte de mim que ficou mesmo agradecida e excitada com a edição do disco. E uma outra, mais egoísta, que se mantém assustada e quer ainda esconder-se... Todos os dias tenho de tentar viver e ser produtivo entre estas duas realidades. E penso que estou a aprender...
Pensa numa ideia de carreira, no futuro...
Hoje em dia há muito mais gente a perguntar-me o que são os meus planos... É bom pensar nisso... Podia ficar a ver televisão todas as noites... Mas a verdade é que também não vou editar um outro disco antes que faça sentido. Gostava de editar algo cedo, mas não me vou apressar. Não antes de um ano...
E como apresenta estas canções ao vivo?
Ao vivo as canções mantém-se simples. Talvez ainda mais intimistas... Tem corrido bem e as pessoas têm gostado.
Tem no álbum uma canção a que deu o título Gay Angels. Acredita que existam?
Creio que existem. Cresci a sentir que ser gay é uma coisa solitária durante muito tempo. Mas há sempre algo que nos faz sentir menos sós, seja uma música ou algo mais... E só depois reparamos que, afinal, estamos melhor que aquilo que pensávamos que estávamos... E isso é um pouco aquilo de que tento falar na canção.
É mais alegre em conversa que o que as canções parecem sugerir... Há sempre uma diferença entre a arte e o artista…
Ninguém quereria estar comigo se eu fosse a imagem da minha música a toda a hora... Aquilo está em mim... Mas não sou sempre assim!