Continuamos a publicação de uma entrevista com Andy McCluskey, dos OMD, que serviu de base ao artigo “Hoje é cool sar a Orchestral Manouvres In The Dark”, publicada no DN a 9 de Setembro.
No início da vossa carreira, e em poucos anos, passaram do som de Electrcity, claramente herdeiro dos Kraftwerk, para um som muito próprio, que atinge a definição em 1981 no álbum Architecture & Morality...
Queríamos fazer algo diferente. Não só diferente do que os outros estavam a fazer mas até de nós mesmos. No primeiro álbum fizemos uma espécie de synth pop teenager. No segundo havia um tom gótico algo inspirado pelos Joy Division (com algumas excepções). No terceiro disco tentámos mudar outra vez. Muitas destas mudanças tinham também a ver com os instrumentos. Tinhamos comprado um mellotron, estávamos a ouvir música coral religiosa... E tentámos fazer algo que saísse das nossas máquinas e sintetizadores mas que fosse muito humano. E, acima de tudo, emocional.
Esse álbum acabou, com o tempo, por se afirmar como uma referência da pop do seu tempo.
Foi muito emocionante. Estávamos a tentar fazer algo novo e assim foi. Em inicio de 1982, quando Maid of Orleans foi editado, estávamos no palco do Top Of The Pops... No programa podia haver uma presença de Cliff Richard, um vídeo de Elton John... Estavam lá os Roxy Music, de quem gostávamos muito quando tinham começado, mas que nos anos 80 eram um tanto aborrecidos... Tudo muito pop mainstream. E nós iamos tocar uma canção na qual os primeiros 40 segundos eram distorção, onde a melodia parecia um gato a estrangular uma gaita de foles escocesa...
E essa ideia de ir para lá do que era habitual na pop levou-os logo depois a Dazzle Ships. Foi um passo ousado…
Foi um passo genuinamente perigoso. Passámos de vendas na ordem dos 3 milhões em Architecture and Morality para 300 mil em Dazzle Ships. Perdemos 90% do nosso público!
E valeu a pena?
Artisticamente valeu a pena. Mas foram precisos 25 anos para que as pessoas começassem a falar do álbum como um disco esquecido. Como uma obra prima esquecida! Na altura foi um suicídio comercial e até na crítica. Foi arrazado. Quase ninguém gostou na crítica. Estávamos a tentar algo diferente e não sei como lá fomos parar... Mas pensava que ao tentar fazer algo diferente musicalmente ia ajudar mudar o mundo. Quando chegámos a Architecture and Morality vendemos milhões de discos e tivémos singles com êxito. Obviamente não mudámos o mundo... E um Andy McCluskey de 22 anos estava meio desiludido. Era como se as coisas não tivessem funcionado. Era mesmo uma parvoíce... Mas era como se os meus preconceitos todos tivessem caido no chão e eu tivesse de começar tudo outra vez. Então apareci com esta ideia de fazer um disco claramente político, sobre o mundo, a guerra fria e a violência... E ao pensar o álbum nem todas as ideias ganharam a forma de belas melodias. Podíamos ouvir os ossos das ideias... E o Paul Humphreys levou 25 anos para me perdoar por ter feito aquele disco.
A música em Dazzle Ships traduz, a certos momentos, relações possíveis com a música de alguns compositores minimalistas. Seguiram caminhos semelhantes na manipulação de fitas, usavam uma lógica de repetição de elementos... Conheciam o trabalho deles?
Porque não vinhamos de uma formação clássica, nunca tinhamos sido apresentados à música contemporânea mais experimental. Por essa altura conhecíamos um pouco o trabalho de Philip Glass e de Steve Reich. Mas aquelas repetições em ABC Auto Industry... O interessante foi que nunca fizemos as experiências apenas para estar a fazer uma música experimental... Quando se faz uma experiência tenta-se algo estranho, grava-se e deixa-se ficar. Ouve-se, reparamos no que se está a fazer, e depois de uma audição captámos a ideia... Mas nós tinhamos de construir algo. Uma canção, algo que tivesse a sua beleza. Algo que se pudesse ouvir várias vezes e que tivesse nascido dessas experiências.
(continua)