Sylvester Stallone está de volta com The Expendables/Os Mercenários, um filme que consegue fazer a síntese do pior da sua carreira — este texto foi publicado no Diário de Notícias (12 de Agosto), com o título 'Notícias sobre o fim dos homens'.
Na edição de Julho/Agosto, a revista norte-americana The Atlantic propõe uma interessantíssima reavaliação dos papéis sociais de homens e mulheres. O artigo principal, de Hanna Rosin, tem um título eloquente: “O fim dos homens”. As conclusões estão muito para além dos valores que definiram o feminismo clássico: é muito provável que as mulheres estejam também a adequar-se melhor, e com mais rapidez, às exigências da sociedade pós-industrial.
Digamos, para simplificar, que não será Sylvester Stallone a alterar esta estado de coisas. Na melhor das hipóteses, podemos encará-lo como um vírus sociológico enredado na ideologia do macho dominante e no revivalismo trôpego dos seus duplos cinematográficos: Rocky Balboa, o pugilista que nunca desiste, e John Rambo, o soldado que apenas conhece a verdade crua da guerra. No novo filme de Stallone, Os Mercenários, só há mesmo dois tipos de mulheres: as que se revoltam, distinguindo-se por um look a meio caminho entre a iconografia de Che Guevara e a colecção de Verão da Harper’s Bazaar; ou as que, por opção profissional, obedecem a ordens acompanhadas com palmadinhas no rabo.
É tudo muito triste, quanto mais não seja porque o Stallone do primeiro Rocky (1976) e também do seu primeiro filme como realizador, Paradise Alley/Beco do Paraíso (1978), representou uma genuína reconversão dos heróis clássicos de Hollywood. Agora, a acumulação de explosões e ruídos transforma Os Mercenários numa obscena degenerescência dos piores jogos de video. E se o seu filho lhe disser que o cinema é “isto”, ofereça-lhe um exemplar de Anna Karenina, acrescentando, com grande delicadeza feminina: “Isto sim, é de homem!”
Na edição de Julho/Agosto, a revista norte-americana The Atlantic propõe uma interessantíssima reavaliação dos papéis sociais de homens e mulheres. O artigo principal, de Hanna Rosin, tem um título eloquente: “O fim dos homens”. As conclusões estão muito para além dos valores que definiram o feminismo clássico: é muito provável que as mulheres estejam também a adequar-se melhor, e com mais rapidez, às exigências da sociedade pós-industrial.
Digamos, para simplificar, que não será Sylvester Stallone a alterar esta estado de coisas. Na melhor das hipóteses, podemos encará-lo como um vírus sociológico enredado na ideologia do macho dominante e no revivalismo trôpego dos seus duplos cinematográficos: Rocky Balboa, o pugilista que nunca desiste, e John Rambo, o soldado que apenas conhece a verdade crua da guerra. No novo filme de Stallone, Os Mercenários, só há mesmo dois tipos de mulheres: as que se revoltam, distinguindo-se por um look a meio caminho entre a iconografia de Che Guevara e a colecção de Verão da Harper’s Bazaar; ou as que, por opção profissional, obedecem a ordens acompanhadas com palmadinhas no rabo.
É tudo muito triste, quanto mais não seja porque o Stallone do primeiro Rocky (1976) e também do seu primeiro filme como realizador, Paradise Alley/Beco do Paraíso (1978), representou uma genuína reconversão dos heróis clássicos de Hollywood. Agora, a acumulação de explosões e ruídos transforma Os Mercenários numa obscena degenerescência dos piores jogos de video. E se o seu filho lhe disser que o cinema é “isto”, ofereça-lhe um exemplar de Anna Karenina, acrescentando, com grande delicadeza feminina: “Isto sim, é de homem!”