Frederick Wiseman é o cinema em todo o seu esplendor de olhar reinventado face à complexidade do real — este texto foi publicado no Diário de Notícias (11 de Agosto), com o título 'Gestos, corpos e trabalho'.
Qualquer espectador minimamente interessado na diversidade do cinema já não suporta o ruído das campanhas dos blockbusters de Verão (mesmo se é verdade que o filme com Angelina Jolie, Salt, a estrear na próxima semana, é um delicioso e inteligente divertimento). Digamos, para simplificar, que vale a pena prestar também alguma atenção às zonas do mercado onde acontecem coisas mais discretas, mas não menos empolgantes. Ou ainda: A Dança – Le Ballet de l’Opéra de Paris, de Frederick Wiseman, é não apenas o acontecimento central do Verão cinematográfico, mas por certo uma das grandes estreias de todo o ano de 2010.
No seu sereníssimo envelhecimento (celebrou 80 anos no dia 1 de Janeiro), Wiseman prossegue uma saga pessoal e sofisticada que, em boa verdade, o transforma num capítulo à parte de toda a história do documentarismo. Ele filma lugares institucionais, desde o quartel militar de Basic Training (1971) até ao hospital de Near Death (1989). Mas filma também espaços públicos que, pelo seu funcionamento e simbolismo, adquiriram o valor de verdadeiras instituições sociais: acontece, por exemplo, em Central Park (1989), genial retrato do coração de Nova Iorque.
No caso da Ópera de Paris, Wiseman dá-nos a ver tudo aquilo que os acelerados concursos de dança recalcam. Ou seja: a duração dos gestos, a singularidade dos corpos, numa palavra, o trabalho. E não haverá muitos filmes (ficção ou documentário) que nos confrontem, de forma tão cristalina, com a suprema beleza do trabalho como expressão da dignidade do ser humano. Wiseman é, afinal, um exemplar de uma raça que a mediocridade televisiva colocou em vias de extinção: a dos humanistas.
Qualquer espectador minimamente interessado na diversidade do cinema já não suporta o ruído das campanhas dos blockbusters de Verão (mesmo se é verdade que o filme com Angelina Jolie, Salt, a estrear na próxima semana, é um delicioso e inteligente divertimento). Digamos, para simplificar, que vale a pena prestar também alguma atenção às zonas do mercado onde acontecem coisas mais discretas, mas não menos empolgantes. Ou ainda: A Dança – Le Ballet de l’Opéra de Paris, de Frederick Wiseman, é não apenas o acontecimento central do Verão cinematográfico, mas por certo uma das grandes estreias de todo o ano de 2010.
No seu sereníssimo envelhecimento (celebrou 80 anos no dia 1 de Janeiro), Wiseman prossegue uma saga pessoal e sofisticada que, em boa verdade, o transforma num capítulo à parte de toda a história do documentarismo. Ele filma lugares institucionais, desde o quartel militar de Basic Training (1971) até ao hospital de Near Death (1989). Mas filma também espaços públicos que, pelo seu funcionamento e simbolismo, adquiriram o valor de verdadeiras instituições sociais: acontece, por exemplo, em Central Park (1989), genial retrato do coração de Nova Iorque.
No caso da Ópera de Paris, Wiseman dá-nos a ver tudo aquilo que os acelerados concursos de dança recalcam. Ou seja: a duração dos gestos, a singularidade dos corpos, numa palavra, o trabalho. E não haverá muitos filmes (ficção ou documentário) que nos confrontem, de forma tão cristalina, com a suprema beleza do trabalho como expressão da dignidade do ser humano. Wiseman é, afinal, um exemplar de uma raça que a mediocridade televisiva colocou em vias de extinção: a dos humanistas.