segunda-feira, agosto 30, 2010

Em conversa: Perfume Genius (1)


Iniciamos hoje a publicação de uma entrevista com Mike Hadreas, que acaba de lançar Learning, um primeiro álbum como Perfume Genius. A entrevista serviu de base ao texto ‘As confissões de uma alma solitária’ publicado na edição de 7 de Agosto do DN Gente.

As canções em Lerning dão-nos um retrato do mundo de um solitário. Até que ponto traduzem a realidade ou alguma ficção?
Na altura em que escrevi aquelas canções vivia de facto uma vida isolada. Mesmo quando estava rodeado por mais pessoas, mas essa é uma sensação interior.

E isso foi quando?
Escrevi muitas destas cannções há cerca de um ano e meio.

Tem 28 anos, ou seja, não eram sinais daquela depressão feita de angústias e solidão que muitos passam no final da adolescência...
Bom, espero que não!!!

E porque resolve um solitário falar ao mundo?
Não sei se era minha a intenção de o fazer numa grande escala. Isso de certeza que não era! Comecei por mostrar as canções aos meus amigos e a coisa cresceu depois daí em diante... Originalmente escrevi-as para mim... Escrevi sobre coisas bem pessoais. Ao escrever aquilo mantinha-me solitário e irreal. Era como uma terapia... Mas isto sem ser melodramático.

Sente que ultrapassou uma certa linha de conforto (ou de desconforto, depende de cada caso) que existe quando se partilha algo que era só nosso com o resto do mundo?
À distância acho que na verdade sou mesmo assim e escrevi coisas simples e muito pessoais. E por isso penso que tudo aquilo carrega uma mensagem... Não estava tentar afectar aqueles que me iam eventualmente ouvir para que cada um depois pudesse carpir as suas versões pessoais de tudo aquilo. Mas entendo que haja quem o procure fazer... E por isso não envolve nunca uma noção de conforto, porque nesse patamar já não é sobre mim mas sobre os outros...

As canções são assim como intrusos através dos quais os outros entram agora na sua vida?
Sim, de certa maneira...

Mas expõe-se neste disco... Foi fácil? E há depois diferenças entre expormo-nos quando gravamos um disco e, depois, quando se apresentam as mesmas canções num palco?
Uma coisa é expormo-nos numa canção e outra é a exploração que possa vir depois. Mas não sei... Quando estou a actuar tenho um pouco a situação sobre controle. Assim como acabo por tê-lo quando me fazem perguntas sobre tudo... Identifico-me com esta ideia de uma música confessional. E é-me mais fácil falar das coisas na canção que em conversa. Não porque seja algo muito profundo, mas sou mesmo assim... Mas enfim, isto é o quero fazer. E qualquer desconforto que isso possa causar, no fundo tenho de aprender a viver com ele. Tenho de o ultrapassar. E fazer isto é importante para mim.
(continua)