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O futebol televisivo é, cada vez mais, um palco de clichés que já nem sequer aceitam lidar com a frieza dos resultados — este texto foi publicado no Diário de Notícias (20 de Agosto), com o título 'Viva a Académica!'
Como espectador do futebol televisivo, pertenço ao grupo dos que já perderam a esperança de assistir a qualquer mudança no tom da maior parte das respectivas personagens. Exemplos? Apenas dois: primeiro, gostaria de deparar com um presidente que não se limite a denunciar o mau comportamento dos adeptos de um clube adversário, mas que faça pedagogia interna e se demarque das atitudes menos dignas dos adeptos do seu próprio clube; segundo, aguardo a revelação de um treinador que, depois de ganhar um jogo, deixe no ar alguma insinuação sobre o carácter corrupto do árbitro.
Tudo indica que as minhas expectativas não serão satisfeitas nos milénios mais próximos. Em todo o caso, julgava eu que o sacrossanto domínio das “notícias” conservasse alguma resistência aos clichés que contaminam a representação televisiva do futebol. Não é verdade que não há jornalista que se preze que não reclame o trabalho noticioso como uma visão imaculada do mundo à nossa volta?
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Deixemo-nos de tretas: informar é escolher. Ninguém faz uma notícia que esteja escrita, ou implícita, nos eventos que se noticiam: informar é construir um ponto de vista. E esta semana, futebolisticamente, tive a certeza que há hierarquias bem definidas no modo de tratar os clubes. Exemplo? A Académica foi ganhar ao Benfica e todas as notícias (as que vi e ouvi, pelo menos) surgiam construídas a partir desta pueril equação: o Benfica perdeu em casa com a Académica; não é “normal” isso acontecer; logo, a notícia é: aconteceu uma anormalidade.
Pensava eu, imbuído de um espírito ingenuamente objectivo, que a notícia era... a vitória da Académica! E que, por isso mesmo, Jorge Costa e a sua equipa não deviam ser tratados como meros figurantes. Ora, não se tratava de gritar “Viva a Académica!”. Mas dir-se-ia que, de acordo com os valores dominantes do jornalismo desportivo, estávamos perante uma tragédia ainda mais grave que o défice orçamental: o Benfica perdeu!!! Nesta perspectiva, a Académica só poderia ser castigada por ter tido o arrojo de produzir uma “não-notícia”.