Perfume Genius
“Learning”
Matador / Popstock
5 / 5
E aqui está um nome para assinalar entre os melhores da história feita em discos de 2010. Apresenta-se como Perfume Genius, mas na verdade a figura por detrás desta música chama-se Mark Hadreas, tem 26 anos, vive em Seattle e acaba de nos revelar um dos mais espantosos discos de alma solitária que por aqui se escutaram nos últimos tempos. Num alinhamento conciso, feito de apenas dez curtas canções, como que a dizer que o pouco pode ser muito, Learning é a expressão de uma alma magoada que assim conta ao mundo exterior as histórias do seu universo particular e do pequeno mundo (e figuras) ao seu redor. A voz frágil (algures entre o tom igualmente vulnerável de um Chris Garneau e o registo melancólico de um Neil Young) conduz-nos por baladas de incrível simplicidade, por vezes sugerindo mais ideias para esboços que eventuais formas finais, fragmentos que, juntos, sugerem e traçam ideias, umas mais nítidas, outras intrigantes, o desencanto sempre presente… Um piano, que soa como se perdido no fundo de uma cave, e ocasionais "cordas" para teclas longas no sintetizador (na melhor escola cinematográfica, à la Angelo Badalamenti) são os melhores companheiros numa aventura lo-fi nas formas, mas carregada de intensidade. Através das canções Mike parece tentar o exorcismo de tormentas, a solidão contudo parecendo instalada de pedra e cal ao seu redor. Descoberto (e dado a conhecer) pelos Los Campesinos, e com presença no MySpace desde há dois anos, Perfume Genius tem neste disco um espantoso cartão de apresentação. Perfume Genius pode não ter a solidez vocal nem a pose de um Antony Hegarty, a complexidade formal de uns Xiu Xiu, ou a visão musical de horizontes largos de um Sufjan Stevens, mas consegue ser tão arrebatador quanto todos eles. Learning é, no mínimo, uma das revelações do ano.