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Mais uma vez, torna-se inevitável referir que o mercado cinematográfico continua a revelar desequilíbrios graves. Este Whisky, por exemplo, vem do Uruguai (resultando de uma coprodução com Argentina, Alemanha e Espanha) e chega-nos com seis anos de atraso: ganhou o prémio da crítica (FIPRESCI) no Festival de Cannes de 2004 e, no ano seguinte, arrebatou, em Espanha, o Goya para melhor filme estrangeiro em língua espanhola (aliás, como complemento, surge A Dama da Lapa, de Joana Toste, curta-metragem de animação portuguesa produzida também em 2004).
Escusado será dizer que nada disto diminui o mérito de quem distribui e exibe os filmes, mas também não resolve um problema que vai afectando todos os agentes do mercado: o alheamento de muitas estreias em relação às dinâmicas internacionais da actualidade cinematográfica. Daí a interrogação que se renova: o que é que esses agentes, sobretudo os mais poderosos, estão a fazer para chegar a todos os nichos de público e não afogar as salas com o marketing sempre igual dos blockbusters?
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Há uma ironia muito amarga que faz lembrar os ambientes de alguns dramas (ou comédias) do cinema clássico italiano. Em todo o caso, o filme não anda à procura de cauções: impõe-se como uma narrativa que acredita naquilo que filma e, sobretudo, reconhece que nenhuma descrição meramente pitoresca pode dar conta da complexidade das relações humanas. Aspecto a não menosprezar: no seu minimalismo austero, os três actores são um exemplo modelar de subtileza e capacidade de sugestão.