domingo, julho 11, 2010

A incessante renovação

Assinalando os 150 anos do nascimento de Gustav Mahler (1860-1911), uma série de edições discográficas chegaram nas últimas semanas ao mercado. E ao longo deste mês algumas delas estarão aqui em destaque. Hoje escutamos uma nova gravação da Sinfonia Nº2, dirigida por Paavo Järvi (na foto em baixo) frente à Orquestra Sinfónica da Rádio de Frankfurt e ao Orfeón Donostiarra, contando ainda com as vozes de Natalie Dessay e Alice Coote. A edição é da Virgin Classics.

A segunda sinfonia de Mahler, uma das mais assombrosas da sua obra, tornou-se com o tempo numa referência marcante. Teve contudo uma história longa e atribulada, e quando foi estreada em Berlim em 1893 (poucos meses depois de na mesma cidade terem sido apresentados publicamente os primeiros andamentos instrumentais), com o próprio Mahler a dirigir, a crítica não se impressionou por aí além, como recorda o booklet que acompanha esta edição. As primeiras ideias para uma nova obra sinfónica e, inclusivamente, a composição de um primeiro andamento, datam de 1888… O trabalho afastou contudo Mahler da composição por algum tempo. Foi nomeado director da Ópera de Budapeste, mais tarde encontrava nova casa no Stadtheater em Hamburgo… E o primeiro andamento, mantinha-se, apesar de alguns esboços mais, como uma peça isolada… E faz parte da história de vida desta sinfonia o momento que em 1891 resolveu o seu destino. Em Hamburgo Mahler toucou, ao piano, esse primeiro andamento ao maestro Hans von Bülow que, em resposta, afirmou que aquela música que acabara de escutar fazia do Tristão e Isolda de Wanger soar como uma sinfonia de Haydn… Mahler retomou a composição em 1892, encontrando para a sinfonia um programa narrativo que reflectia sobre a ressurreição, conclundo o longo quinto e último andamento com um sinal de esperança numa lógica de incessante renovação.

Gravada em Agosto de 2009 em Frankfurt, esta leitura da Sinfonia Nº 2 de Mahler representa a segunda incursão discográfica de Paavo Järvi (natural da Estónia) pela obra do compositor sendo que, todavia, é a primeira sinfonia que o maestro grava na íntegra, o título anterior, 4 Movements, resultando da agregação de excertos de várias sinfonias. 86 anos depois do seu primeiro registo em disco, por Oskar Fried, com a Staatskapelle Berlin, a Sinfonia Nº 2 de Mahler junta nesta gravação uma orquestra com tradição na sua relação com a obra do compositor, um maestro que parece apostar mais na sobriedade e atenção ao detalhe que em aventuras de maior ousadia interpretativa, a voz clara de Natalie Dessay e uma magnífica clareza da gravação (impressionante mesmo, se tivermos em conta que resulta de uma captação ao vivo, em concerto).