Estas duas imagens não foram coladas aqui — surgem assim mesmo, lado a lado, na base da página de entrada do site da TVI [25 Julho, 20h00]. A sua coexistência, nestes termos, acaba por ser um revelador efeito dos poderes clássicos de um princípio vital de muitas formas de expressão visual, em particular o cinema — esse princípio é a montagem e o modo como nela, por definição, se começam por aproximar dois elementos, gerando uma narrativa em que ambos estão implicados.O que aqui podemos ler está, por isso, para além do inquietante anúncio de uma nova edição dessa chaga social e cultural que dá pelo nome de Big Brother. Está, de facto, em marcha a produção de uma nova edição desse reality show — e a provocação social e política é de tal ordem que a promoção oficial se atreve a usar como frase promocional a expressão "A revolução começa agora!":
O nível do envolvimento público que o empreendimento solicita aos concorrentes está bem expresso na agressiva obscenidade do 'Questionário reality' a que são obrigados a responder. Alguns exemplos de perguntas formuladas:
* Quais foram as coisas mais estúpidas que fez na adolescência?
* Conte-nos a sua primeira história de amor.
* Teve muitos relacionamentos/affairs? Amizades coloridas?
* Qual é o seu segredo de sedução?
* Que tipo de relacionamento tem com os seus familiares mais próximos (pais, irmãos, avós, tios, primos...). Tem alguma história engraçada com eles?
Mesmo passando à frente das sugestões mais torpes (o que são "amizades coloridas"?...), fica a lógica invasora de um entendimento do ser humano que não respeita nenhuma fronteira — porquê e para quê expor assim a vida familiar seja de quem for? E os familiares são apenas caricaturas que podem ser evocados para contar alguma "história engraçada"?
Pensava eu, como cidadão eleitor, que fazer política começava por aí — e que, por isso mesmo, as intrigas mais ou menos fulanizadas das máquinas partidárias, mesmo quando envolvem "histórias engraçadas", não passariam de detalhes secundários.