Riechmann
“Wunderbar”
Bureau B / Compact Records
4 / 5
Já foi descrito como um dos tesouros perdidos do krautrock. E, na verdade, durante mais de 30 anos, foi um disco quase invisível, mesmo quando se falava da importantes contribições que a música alemã então dava ao panorama pop/rock global. Mas em finais de 2009 (e agora com distribuição local) Wunderbar regressou aos escaparates das discotecas. E com ele o som de uma curta, mas visionária, carreira a solo de um músico que em tempos chegara a colaborar com Michael Rother (dos Neu!) ou Wolfgang Flur (antes deste integrar os Kraftwerk). Wolfgang Riechmann mostrava, neste seu álbum originalmente editado em 1978 um espaço de reflexão em torno de várias ideias que então marcavam o panorama kraut (mais periferias e derivados), por um lando mantendo ligações a uma identidade nascida de uma fundadora etapa experimental (com interesses na exploração dos sons e das suas texturas), por outro avançando para além das fronteiras de um melodismo pop que, na altura, era elemento já protagonista na agenda de nomes vários, dos Kraftwerk aos Tangerine Dream. Wunderbar está todavia longe de ser um disco pop. É antes uma sucessão de quadros instrumentais, onde as formas evoluem gradual e lentamente, em alguns instantes aceitando a pulsão de uma estrutura ritmica mais intensa, noutras deixando a contemplação tecer olhares mais próximos de uma ideia mais próxima do registo “ambiental”. Há aqui frequentes afinidades com caminhos então partilhados por um Jean Michel Jarre (numa etapa contemporânea em que era força consequente neste panorama, entre os fulcrais Oxygene e Equinoxe). E, como se escuta em Himmeblau, aqui se adivinham ideias que ganhariam outra amplitude na sua extensão à pop através da geração cold wave (Gary Numan ou Ultravox e seus contemporâneos podem ter aqui encontrado eventuais sinais de luz). A morte levou Riechmann semanas antes da edição deste seu único álbum. Poderíamos aqui especular sobre até onde a sua música nos poderia ter levado… Wunderbar, contudo, deixa a certeza de que nele residiu uma força bem interessante entre o panorama do chamado “rock alemão” de finais de 70. E, talvez mais até hoje que no seu tempo, a sua música está a cativar admiradores e a gerar descendências.