Um corpo pós-moderno, debatendo-se com a teatralidade das suas heranças, reencontrando através do seu próprio desgaste simbólico a herança imensa do inconsciente freudiano?
Sim, por certo. Mas talvez tenha chegado o tempo de falarmos de um corpo pós-digital, nascido no labirinto instável de uma nostalgia carnal reconvertida aos perigos e delícias do novo continente (negro?) da tecnologia digital e da sua gélida contaminação dos sexos. Ou alguém duvida que Matrix era o filme de um novo erotismo, de solidão ainda mais cruel?
Formado na Cambridge School of Art, Alex S. Kliszynski é um espantoso artista inglês que nos ajuda a lidar com tão agreste conjuntura, oferecendo-nos corpos "híbridos" que, se outros efeitos não desencadeassem, nos ajudariam, pelo menos, a reagir contra os mais violentos e naturalizados clichés de representação do masculino e do feminino — nas suas próprias palavras: O essencial do meu trabalho é um conjunto de bonecos-humanos que tentam levantar questões sobre as numerosas imagens do corpo 'objectificado' e idealizado que vemos nos mass media.
Em jogo está não apenas o carácter ambivalente de qualquer identidade sexual, mas também uma reconfiguração do conceito de qualquer olhar. São fotografias que reunem o gesto infantil da edificação de um mundo imaginário e a hipotética celebração abstracta desse mundo. Impelem-nos para a difícil reconversão da palavra beleza, o que, num mundo de quotidiana celebração de tantas formas de fealdade, não é pouco.