quinta-feira, junho 17, 2010

Bernardo Sasssetti: movimentos com razão


O novo álbum do Bernardo Sassetti Trio (mais um lançamento da admirável Clean Feed) começa com Homecoming Queen, uma canção dos Sparklehorse, revisitada num tom de deambulação que não exclui, antes intensifica, uma metódica revalorização das suas emoções mais viscerais. Provavelmente, desde essa primeira faixa, os ouvidos mais puristas começarão a questionar a "legitimidade" do próprio registo: será que isto é mesmo jazz? Em boa verdade, não creio que faça sentido avançar com respostas defensivas (do género: "é jazz, mas com algumas componentes de outros universos..."). Porquê? Porque essa ambivalência (apetece dizer antes: abrangência) existe como elemento fundador do próprio trabalho: abrir espaços para novas narrativas de que o piano é, de uma só vez, a raiz e a matéria condutora.
Bernardo Sassetti, Carlos Barreto (contrabaixo) e Alexandre Frazão (bateria) não gravavam há sete anos, desde o emblemático Nocturno, álbum cujo impacto entrou para a história portuguesa do jazz, incluindo a história do seu mercado. Agora, evitando qualquer revisitação meramente nostálgica, relançam-se numa aventura fascinante em que têm cabimento as derivações de uma quase-valsa (Reflexos_Movimento Circular), os exercícios lúdicos com a aspereza dos sons de um rádio (MW 108.7 Revival e MW 104.5 Bicubic) ou ainda as memórias cruas de um jazz de nobre primitivismo (Bird & Beyond). Afinal de contas, o álbum chama-se Motion. E o que se move, aqui, é a própria razão com que se arquivam as emoções. Como diria Godard: em emotionmotion.

>>> Esta é uma ilustração do tema Reflexos_Movimento Circular, disponível no YouTube (página de rigojo - fotos Guillaume Braunstein).