The Irrepressibles
“Mirror Mirror”
Major Record Label / Nuevos Medios
3 / 5
O álbum de estreia do colectivo londrino The Irrepressibles é daquelas cartas fora do baralho que ajudam a “desarrumar” o panorama musical, mostrando que há muita música que acaba fora das gavetas dos géneros e formas de referência dominantes que frequentremente ditam os acontecimentos de que mais se fala. Não serão o elo perdido entre Antony & The Johnsons e os Fisherspooner. Mas se instrumental e vocalmente revelam frequentes afinidades com a obra em grupo de Antony Hegarty, no departamento da imagem mostram um gosto pelo bizarro e barroco que pisca o olho a um modo de pensar a performance que partilha interesses com o que em tempos conhecemos no colectivo nova-iorquino. Mirror Mirror é uma colecção de canções que nascem de um ensemble de dez músicos onde electrónicas e percussões convivem com cordas de alma sinfonista, arranjos eloquentes servindo de cenário à voz de contratenor de Jamie McDermott. Não será exactamente uma música pop, mas algo nas suas periferias, partilhando interesses com os modos como os Polyphonic Spree cruzaram arranjos de alma teatral com canções que assentam sobre um melodismo de ascendência pop, por vezes entrando em cena elementos familiares à linguagem assombrada de um Danny Elfman. A voz é contudo a presença protagonista, e aí tanto se revela a já apontada familiaridade com Antony Hegarty como, ocasionalmente, o que parecem ecos da pose pop-operática de Russell Mael (dos Sparks). Não serão exactamente, para 2010, um equivalente ao mundo inesperado e visionário que Klaus Nomi nos mostrou em inícios de 80. Mas a sua herança passa também por aqui…