quinta-feira, maio 06, 2010

A guerra por dentro (de um tanque)

Estreia hoje nos ecrãs nacionais Líbano, um impressionante retrato autobiográfico no qual o realizador israelita Samuel Maoz evoca recordações torturadas dos dias que viveu, dentro de um tanque de guerra, no Líbano, em inícios dos anos 80. Tal como o recente Valsa com Bashir, de Ari Folman, este é um filme vive de factos reais, cravados em memórias assombradas que agora finalmente os realizadores partilham.

Líbano é um olhar pela guerra vivido do ponto de vista de quem a meio dela se encontrou. Tal como o foi o realizador na altura, somos agora colocados no exíguo e claustrofóbico interior de um tanque de guerra. O ambiente é escuro, imaginamos que quente e carregado de cheiros nauseabundos. Decididamente assustador, este é o espaço que acolhe toda a narrativa, o exterior sendo-nos dado apenas pela mira do artilheiro, que assim é a única janela para o exterior. Poucas palavras, as que se escutam resultando das dúvidas, das ordens ou dos medos que vão crescendo… A câmara escuta os olhares, adivinhando-lhes sensações e ideias. A escuridão envolve-os, os conflitos gerando um estado de tensão que parece nunca se dissipar, sobretudo quando dão por si fora de terreno seguro, algures numa zona habitada onde, sabem, o inimigo está bem perto, e o pânico quase ofusca a razão.

Sem heróis, Líbano é um filme anti-guerra tenso e intenso. As imagens, o espaço, as situações e, sobretudo, o clima que se instala entre as personagens conseguem sugerir o que foi estar ali e viver aqueles instantes longos de desconforto e medo.



Imagens do trailer de Líbano.