Apenas um fotograma, mas que resume um olhar de cineasta: esta imagem pertence a O Estranho Caso de Angelica, filme que Manoel de Oliveira conseguiu, finalmente, concretizar, depois de uma espera de muitas decadas (a ideia original data do periodo posterior ao fim da Segunda Guerra Mundial). Sao linhas cruzadas de olhares e imaginacoes, nao por acaso desenhadas entre a ambiguidade da fotografia e o assombramento do cinema — o protagonista, Isaac (Ricardo Trepa), fotografa uma noiva que morreu, Angelica (Pilar Lopez de Ayala), deparando com uma figura que... lhe sorri. Efeito de realidade? Antes pelo contrario: a realidade de um efeito que nos confronta com a materia e, como Oliveira gosta de dizer, nos envolve com o espirito. Sera preciso acrescentar que O Estranho Caso de Angelica e uma deliciosa e desconcertante comedia?