quinta-feira, abril 29, 2010

Novas edições:
Mão Morta, Pesadelos em Peluche

Mão Morta
“Pesadelo em Peluche”

Universal
4 / 5

Os Mão Morta são um dos cada vez mais raros exemplos de uma obra em construção capaz de aliar a noção do tempo vivido (e das experiências colhidas) ao gosto em continuar a caminhar, olhando em frente… Que é como quem diz, cimentaram em 25 anos de actividade todo um código de referências, não se fechando contudo num porto seguro onde, muitas vezes, muitos grupos transformam veterania numa espécie de piloto-automático que, progressivamente, perde viço e consequência. Pelo contrário, nos últimos anos os Mão Morta têm-nos apresentado discos que os colocaram, com invulgar regularidade, na linha da frente dos acontecimentos do universo pop/rock alternativo (e periferias) por estes lados, frequentemente convocando as noções de supresa e desafio. E basta citar títulos como Müller No Hotel Hessicher Hof (1997), Há Já Muito Tempo Que Nesta Latrina O Ar Se Tornou Irrespirável (1998), Primavera de Destroços (2001) ou o mais recente Maldoror (2008) para sublinhar a variedade de caminhos vividos. Neste aspecto, e a uma primeira abordagem, o novo Pesadelo em Peluche poderia sugerir um instante de pausa ou mesmo um passo atrás. Mas não o é. Assinala, de facto, um reencontro com a alma rock’n’roll do grupo, que emerge de quando em quando, e que tem como referência maior o “clássico” Mutantes S.21 (1992). Mas mesmo se pelos temas se projectam ideias, narrativas ou imagens algo familiares, a relação com a música sugere, mais que nunca, uma vontade em explorar o formato da canção, não fechando contudo a sua alma “rock” numa montra de evocações para electricidade e demais elementos da cartilha formal do género. Os arranjos traduzem uma história que há muito integrou outros elementos (nomeadamente as electrónicas, mesmo quando discretas) e a voz tanto se entrega a rituais rock’n’roll como recupera por vezes o tom contador de histórias que é já parte da genética dos Mão Morta. Pode não ser o mais surpreendente da obra do grupo. Pode não pregar a revolução (e é preciso fazê-lo a toda a hora?). Mas mostra que sabem evitar a “rasteira” do back to the basics (que tantas carreiras longas tem magoado), optando antes por, na hora de alguns reencontros, não olhar apenas ao passado mais remoto, mas à soma de toda uma vivência, projetctando-a num presente que, mesmo sugerindo um clima que nos é já familiar, ainda tem algo para nos contar. A “garra” afinal está lá… É apenas diferente.