quinta-feira, abril 08, 2010

Discos da semana 2010 (9)

Com obra em disco desde 2002, o colectivo Xiu Xiu continua mesmo assim a ser um daqueles segredos bem guardados pelos que acompanham de perto o que acontece nas franjas mais periféricas (e desafiantes) os universos da música popular. O grupo é o veículo para as ideias de Jamie Stewart e conta neste Dear God I Hate Myslef com a presença da recém-chegada Angela Seo, assim como com a colaboração de Greg Saunier, dos Deerhof. O disco segue trilhos que apresentam uma relação natural com a obra anterior de Xiu Xiu, mas mais que nunca o pequeno grande mundo de acontecimentos que Jamie Stewart convoca às suas canções conhece aqui uma arrumação que valoriza, além das ideias no plano da sonoplastia, a identidade formal das próprias composições. Há jogos curiosos entre a aparente simplicidade das palavras e a complexidade das formas que se cruzam e mergulham entre si no corpo de canções que são desafio para qualquer taxonomista. Há aqui pedaços de disco (Chocolate Makes You Happy é irresistível), fragmentos de luminosidade pop, trilhos definidos por electrónicas, ruídos aparentemente aleatórios, sons que evocam o espaço dos videojogos… Um quase caos que se ordena, elevando a um patamar de identidade já bem demarcada uma série de ideias que em tempos teve em Momus um dos mais interessantes estetas. Destaque maior para o tema-título, que concorre para a lista das grandes canções de 2010, mas é na verdade apenas um entre os grandes instantes de um disco que nos revela deliciosas surpresas a cada audição.
Xiu Xiu
“Dear God I Hate Myself”
Kill Rock Stars / Popstock
4 / 5


Afirmaram-se rapidamente entre o panorama indie como uma das duplas que fazem a história deste momento que vivemos. Ele, M Ward, com magnífica obra já editada em nome próprio, não precisa de acumular mais adjectivos para se afirmar entre os escritores de canções (campeonato indie) da sua geração. Ela, Zooey Deschanel, tornou-se numa actriz de culto entre este mesmo público, contando com o recente 500 Days Of Summer entre os seus melhores instantes no grande ecrã. Juntos, como She and Him, tinham já editado um primeiro disco, na verdade pouco mais que apenas… interessante. Agora este Volume 2 leva mais adiante as promessas então lançadas, revelando um conjunto de canções bem iluminadas (e já com sabor a Verão), num espaço onde se cruza a memória de heranças da canção de 60 e 70 (em particular as solarengas heranças beach pop) com cenários que são os do seu espaço e do seu tempo: o de agora. De aparente simplicidade nas formas, mas suportadas por arranjos que nunca escondem os protagonistas nos cenários, Volume 2 é um pequeno mimo pop que vale a pena ouvir, feito de narrativas onde não faltam os pequenos dramas do quotidiano tantas vezes cantados em domínios indie e melodias que piscam o olho ora à folk, à country e a ecos de escolas pop de outros tempos.
She and Him
“Volume 2”

Double Six / Edel
4 / 5


Nome central numa etapa de revolução nos universos da ‘club cluture’ britânica em finais de 80, Tim Simenon (via Bomb The Bass) começou por se revelar em discos que estabeleciam diálogos entre a cultura hip hop, a pista de dança e a colagem de samples. Nos anos 90 a música evoluiu em busca da canção. Seguiu-se um extenso hiato, revelando o disco de regresso, Future Chaos, um espantoso exemplo de como a continuidade de uma ideia, mais de dez anos depois, ainda soube ser actuante, não encaminhando o veterano numa rota de nostalgia… Dois anos depois de Future Chaos, Os Bomb The Bass apresentam novo disco que, sem se afastar do trilho sugerido em 2008, não alcança todavia o mesmo patamar. Não por falta de novidade (que não é precisa, nem existe, uma revolução a cada novo álbum), mas mais pelo alinhamento onde não parecem morar tão boas canções. Back To Light é, mesmo assim, um muito competente álbum de canções pop talhadas por electrónicas, em clima mais tranquilo que agitado, e contando com a ajuda de nomes que vão do “residente” Paul Conboy a convidados ilustres como Kelley Polar ou Martin Gore, com Gui Boratto entre os demais parceiros no capítulo da produção. Sem surpresas maiores, Tim Simenon mantém mesmo assim os Bomb The Bass entre os nomes que conseguiram nunca desiludir ao longo de toda a sua obra.
Bomb The Bass
“Back To Light”

K7 Recordings
3 / 5


Em inícios da década dos zeros os azimutes da atenção pop descobriram a Noruega, mostrando que a música que chegava daquelas latitudes não se esgotava na pop dos A-Ha ou Fra Lippo Lippi, nem nas visões mais desafiantes de uns Bel Canto ou no jazz de um Jan Garbarek ou Arild Andersen. Entraram em cena nomes como os Royksopp, Kings Of Convenience ou Sondre Lerche. E, numa segunda vaga (para os mais interessados), os Fluk, Slow-Pho ou Xploding Plastix, entre alguns mais... O tempo desviou a sede de novidade para outros destinos, o que não se deve ter por sinónimo de um tempo de feitos menores na pop norueguesa. E um bom exemplo da vitalidade e personalidade da música que nasce por aqueles lados revela-se no novo álbum dos Casiokids. Como os Folk Og Rovere cantam em norueguês, a opção podendo explicar porque continuam a conhecer reduzida atenção além-fonteiras (e os Sigur Rós continuando a representar um dos raros casos de exportação global pop/rock sem o recurso ao inglês). O disco mostra uma visão pop que soma ideias e as junta numa amálgama onde convivem as electrónicas com uma puslão indie que faz das canções pequenas pérolas que convidam à descoberta. É um disco de momentos melhores e outros nem por isso, mas com momento maior nesse irresistível convite à dança que é Fot I Hose. A descobrir!
Casiokids
“Topp Stemming Pa Lokal Bar”

Nightlife / Universal
3 / 5


Começou por se afirmar nos domínios do “gira-disquismo”, mas da compreensão e assimilação das potencialidades das ferramentas de trabalho o português DJ Ride tem vindo a afirma uma ideia musical própria que procura caminhos para lá desses primeiros horizontes. O EP que lançara há relativamente pouco tempo (através da série Optimus Discos) mostrava já claros sinais de resultados concretos nessa demanda mais pessoal. Beat Journey foi, inclusivamente, um marco na história de uma DJ culture local que em Ride tem claramente um dos mais talentosos protagonistas. Agora chega Psychedelic Soundwaves, um álbum que leva ainda mais adiante esta mesma busca de um espaço seu e traduz o retrato da afirmação de uma etapa que lança desafios ainda mais adiante. Os “beats” são naturalmente a raiz estrutural da ideia, mas à sua volta cresce um corpo que acolhe caminhos que transcendem os espaços do hip hop, ora espreitando as electrónicas (em vários e estimulantes comprimentos de onda) ora a dado momento o drum’n’bass, numa paleta que vinca o que parece ser uma vontade em experimentar, em observar um vasto mundo de sons e referências à sua volta sobre o qual acaba por agir. A nova música portuguesa (também) está a passar por aqui!
Ride
“Psychedelic Soundwaves”
Rockit
3 / 5


Também esta semana:
Rufus Wainwright, Jonsi Birgisson, Ultravox (live), Triffids (best of), Frankie Goes To Holliwood (reedição),

Brevemente:
12 de Abril: MGMT, Madness (reedição), Arcadia (reedição), Nathalie Merchant, Johann Johansson, Lali Puna
19 de Abril: Caribou, Paul Weller, Ash (best of), Jimmy Sommerville, Recoli
26 de Abril: The Fall, Futureheads, Juan McLean (DJ Kicks), Little Annie

Abril: We Have Band, Apples In Stereo, Trans AM, Melissa Etheridge
Maio: Rolling Stones (Exile On Main St. Reedição), Broken Social Scene, Smashing Pumpkins, New Pornographers, The Fall, The National