terça-feira, abril 20, 2010

Bon apetit!

Era o filme que poderia ter dado, finalmente, um terceiro Oscar a Meryl Streep. E devia! Mas assim não foi. O que não secundariza o facto de Julie & Julia representar mais um momento significativo na filmografia daquela que, mesmo com mais nomeações que Oscares, é certamente um dos nomes do cinema do nosso tempo que a história nunca poderá esquecer.

Meryl Streep dá aqui mais uma verdadeira lição de versatilidade enquanto actriz ao vestir a pele de Julia Child, a maior “estrela” tele-culinária da televisão norte-americana, grande responsável pela divulgação da cozinha francesa ao grande público americano, feito que começou a ganhar forma nas páginas do livro Mastering The Art Of French Cooking (editado em 1961) e depois ganhou ainda maior visibilidade via TV. O filme evoca o momento em que Julia Child descobre o gosto pela culinária numa etapa da sua vida, no pós-guerra, durante a qual reside em França. A ponte com o presente faz-se em paralelo com a história (também verídica) do blogue de Julie Powell, uma nova-iorquina que, em 2002, resolveu relatar num bogue o desafio de recriar todas as mais de 500 receitas do livro de Julia Childs. Assinado por Nora Ephron, Julie & Julia anda num pingue pongue entre duas épocas, ora recordando a “odisseia” de Julia Child ora revelando aos poucos como as suas receitas tomaram conta do dia a dia de uma empregada de um call-center cujo blogue funcinou como uma espécie de agulheiro, mudando para sempre a sua linha de vida. Com ingredientes “clássicos” – sobretudo aqueles que fazem histórias de sucesso inesperado pela força da dedicação – Julie & Julia é mais um exemplo de uma curiosa relação do cinema com a culinária (a Berlinale já dedica uma selecção de títulos ao tema) e, sobretudo, mais um espantoso trabalho de interpretação de Meryl Streep.



Nestas imagens a comparação entre a recriação por Meryl Streep (que vemos no filme) e a memória do programa televisivo de Julia Child.


Na sua vontade em ser fiel às recriações de espaços e de épocas, o filme chega a recriar a “famosa” cozinha de Julia Child. Nesta imagem vemos a “real thing”, numa recriação que integra a exposição permanente do National Museum of American History, em Washington DC.