Como contar a história de uma adolescente que vê a vida depois da morte? Eis um desafio que fica por cumprir em Visto do Céu — este texto foi publicado no Diário de Notícias (10 de Março), com o título 'Efeitos (pouco) especiais'.
Vivemos uma conjuntura mediática de mera celebração “tecnológica” do cinema: as televisões generalistas reduziram o cinema a coisa “especializada”, quase sempre relegada para as madrugadas e, na maior parte dos casos, mantêm-se alheadas da pluralidade histórica e conceptual do cinema, divulgando-o apenas como fenómeno de... efeitos especiais.
A adaptação do romance de Alice Sebold, Visto do Céu, parece resultar de preconceitos cúmplices dessa visão. Escusado será dizer que Peter Jackson [foto] tem à sua disposição estruturas de produção altamente sofisticadas, várias delas sediadas no seu país (Nova Zelândia), em grande parte nascidas para a fabricação da trilogia de O Senhor dos Anéis (2001-2003). Ao mesmo tempo, há qualquer coisa de desconcertante na facilidade “exibicionista” com que os efeitos especiais são aplicados, em última instância menosprezando as componentes dramáticas da própria história que se está a contar. Na prática, são os actores que mais sofrem com isso. Saoirse Ronan, a intérprete de Susie, é uma presença natural, com uma relação forte com a câmara. Mas o elenco adulto, com especial evidência para a infeliz composição de Stanley Tucci, é subaproveitado e, por assim dizer, “engolido” pelas piruetas de um filme que parece não acreditar no seu próprio material literário (Susan Sarandon, na personagem da avó, numa hábil combinação de emoção de ironia, é quem resiste melhor).
Francis Ford Coppola, um dos cépticos face à actual revolução tecnológica, gosta de dizer que o aparato de efeitos especiais nunca salvará uma má história. No caso de Visto do Céu, percebemos que o contrário também pode acontecer: uma boa história pode ser banalizada pelos efeitos especiais.
Vivemos uma conjuntura mediática de mera celebração “tecnológica” do cinema: as televisões generalistas reduziram o cinema a coisa “especializada”, quase sempre relegada para as madrugadas e, na maior parte dos casos, mantêm-se alheadas da pluralidade histórica e conceptual do cinema, divulgando-o apenas como fenómeno de... efeitos especiais.
A adaptação do romance de Alice Sebold, Visto do Céu, parece resultar de preconceitos cúmplices dessa visão. Escusado será dizer que Peter Jackson [foto] tem à sua disposição estruturas de produção altamente sofisticadas, várias delas sediadas no seu país (Nova Zelândia), em grande parte nascidas para a fabricação da trilogia de O Senhor dos Anéis (2001-2003). Ao mesmo tempo, há qualquer coisa de desconcertante na facilidade “exibicionista” com que os efeitos especiais são aplicados, em última instância menosprezando as componentes dramáticas da própria história que se está a contar. Na prática, são os actores que mais sofrem com isso. Saoirse Ronan, a intérprete de Susie, é uma presença natural, com uma relação forte com a câmara. Mas o elenco adulto, com especial evidência para a infeliz composição de Stanley Tucci, é subaproveitado e, por assim dizer, “engolido” pelas piruetas de um filme que parece não acreditar no seu próprio material literário (Susan Sarandon, na personagem da avó, numa hábil combinação de emoção de ironia, é quem resiste melhor).
Francis Ford Coppola, um dos cépticos face à actual revolução tecnológica, gosta de dizer que o aparato de efeitos especiais nunca salvará uma má história. No caso de Visto do Céu, percebemos que o contrário também pode acontecer: uma boa história pode ser banalizada pelos efeitos especiais.