terça-feira, março 09, 2010

Nós e eles...

Nascido da adaptação de uma curta metragem – Alive In Jorbug, de 2005 – do próprio realizador Neill Blomkamp, Distrito 9 (que acaba de ser editado em DVD entre nós) é um dos mais atípicos filmes de ficção científica dos últimos tempos. A acção passa-se num futuro muito próximo, com ponto de partida decretado pela chegada de uma gigantesca nave. Porém, contra o que é habitual, a nave não escolheu uma cidade-postal para visitar. Nem Nova Iorque nem Londres, nem Washington nem nenhuma outra com skyline reconhecível em todo o mundo… Pairou sobre Joanesburgo, na África do Sul… E por ali ficou… Nem luzes nem música, nem raios laser… Apenas o silêncio até que, dois meses depois, equipas de segurança furam o casco e lá dentro descobrem uma gente moribunda com uma fisionomia algo entre o homem e o insecto… Deslocam-nos para terra, e alojam-nos numa zona fechada a que chamam District 9. Anos depois do apartheid, uma nova lógica de segregação entra em vigor, o nós e eles desta vez definido entre humanos e alienígenas…

É em torno destas premissas que vive o filme que, com condimentos de acção, acompanha então, 20 anos depois da chegada da nave, uma operação que visa deslocar a população alienígena para novo (e mais distante) lugar… O feitiço voltando-se contra o feiticeiro quando o responsável pelo despejo é “infectado” por um líquido alienígena, entrando em processo de mutação e desde logo se vê procurado pelos humanos como potencial alvo de atenção biológica na indústria do armamento (acrescente-se que a tecnologia alienígena, armas inclusive, tem uma base de relacionamento biofisiológico com quem a opera, logo, não acessível aos humanos). Numa terra de ninguém, nem mais humano, ainda não alienígena, o protagonista vê-se confrontado entre o que é, o que foi e o que teme ser. Age humanamente, de forma egoísta e alheio aos demais à sua volta… Procurando contudo refúgio no District 9, onde não sabe bem quem está do seu lado ou nem por isso.

O filme usa, em determinadas sequências, uma linguagem próxima da do documentarismo televisivo, mas não se esgota nesta solução. As metáforas sobre o apartheid, o desenhar de um humano humana - e não politicamente - correcto e a caracterização de uma espécie alienígena através do que parecem ser os últimos de uma população sobrevivente dentro de uma nave onde as elites, aparentemente, terão morrido, são alguns dos ingredientes que fazem de Distrito 9 um caso interessante do cinema de ficção científica deste início de século.

Pode ver o trailer de ‘Distrito 9’aqui