sexta-feira, março 12, 2010

Em conversa: Owen Pallett (3/3)

Concluímos a publicação de uma entrevista com Owen Pallett que serviu de base ao artigo ‘Owen Pallett traz a Lisboa canções que escreveu nesta cidade’, publicado na edição de 9 de Março do DN. O músico estará novamente hoje em concerto em Aveiro, no Centro Cultural e de Congressos.

A música para cinema passa pelos horizontes do seu trabalho?
É verdade que cheguei a trabalhar uma vez numa banda sonora, mas houve conflitos e o trabalho teve depois de ser entregue a outra pessoa.

Gostaria de voltar a tentar abordar esse universo?
Em 20 anos, sim...

Vai ficar, então, pela música pop uns 20 anos?
Sim talvez... Vou aproveitar o facto de ser jovem e bonito... (risos) Quero aproveitar e tocar... Daqui a 15 anos talvez já não seja tão bonito e a minha voz possa ter desaparecido e então talvez comece a fazer música para cinema. Interessa-me o trabalho, pode até ser um bom desafio, mas não creio que volte a fazer música para cinema por enquanto...

Quão importante foi o ensino clássico que teve. Foram úteis os ensinamentos que colheu?
Basicamente nem por isso... Há coisas que uso... Frequentei o ensino clássico e aprendi algumas coisas importantes, é certo. Mas não me parece que as decisões que tomo têm a ver com o que aprendi. Nos anos 90 e no início dos anos zero havia uma quantidade incrível de música interessante, mas muita gente não a escutava porque muita da música indie era então um fenómeno underground. A música popular não era nada que se comparasse aos Vampire Weekend ou Grizzly Bear. Nessa altura pensava que ninguém parecia saber nada sobre música. Há muitos compositores contemporâneos que ainda estou a descobrir... Só no ano passado ouvi pela primeira vez o David Lang. Mas na verdade foi também por essa altura que comecei a ouvir os Depeche Mode... Nunca os tinha ouvido antes. Hoje é mais fácil ouvir música. A música indie explodiu mesmo nos últimos dez anos. E transformou-se na coisa mais importante que há por aí.

A Internet foi importante nessa abertura de horizontes de que fala nos anos zero?
Creio que sim... Mas acho também que as pessoas estão a fazer melhor música. O que me incomoda apenas é pensar que o que piorou mesmo muito foi o jornalismo musical. Cheio de incorrecções sobre tudo... Ainda há dias lia numa crítica ao meu disco uma referência ao Tubular Bells, dizendo que era um disco de Brian Eno! Perdão?... Ninguém pode cometer um erro tão estúpido!

Parte de Heartland nasceu em Lisboa. Porquê esta escolha?…
Não me identifico mais com o Canadá nos dias de hoje. Identifico-me com os portugueses. Trabalhei as letra deste disco em Lisboa. Passei umas duas semanas no topo do Bairro Alto. Senti-me bem. Lisboa é uma das melhores cidades do mundo. A comida é boa. O queijo é muito bom. Gosto das pessoas. Sinto-me relaxado.