Entraram em cena há cerca de três anos, quando as atenções se concentraram em volta de nova música que brotava de Brooklyn (Nova Iorque), e tiveram no álbum de estreia, All Hour Cymbals, uma primeira materialização de uma ideia pop feita de somas de sabores e sons distintos, na união de (muitos) elementos procurando encontrar uma nova força… Era um disco promissor, inscrevendo o nome dos Yeasayer entre os que valia a pena seguir com atenção. Odd Blood, o segundo disco, confirma em pleno que as expectativas eram justificadas. Entre os dois álbuns andaram na estrada com bandas como os MGMT e o vocalista Chris Keating foi protagonista em Audacity Of Huge, dos Simian Mobile Disco. O novo disco arruma ideias. Não apenas as que tacteavam, em sucessivas experiências, no primeiro álbum, mas também as que agora conduzem a uma nova visão pop e uma capacidade em desafiar à dança que se projecta assim num alinhamento absolutamente irresistível. Odd Blood é um disco pop, feito de canções luminosas e irrequietas. Mas não perde de todo o apetite pela experiência de ideias sonoras nem o gosto em avançar por caminhos onde o bizarro por vezes mora na porta ao lado. Não estarão ainda no patamar de uns Animal Collective, mas neste segundo álbum mostram sinais de um trajecto com algumas afinidades na forma como o grupo nascido em Baltimore foi aglutinando experiências de disco para disco, em busca de uma nova ideia de canção pop. Se o álbum de estreia foi uma chamada de atenção, Odd Blood é uma saborosa certeza. A banda sonora de 2010 passa por aqui.
Yeasayer
“Odd Blood”
Secretly Canadian
4 / 5
Para ouvir: MySpace
David Byrne colaborou recentemente com Fatboy Slim no primeiro álbum do projecto Brighton Port Authority. Era um esforço colectivo, reunindo uma série de vozes convidadas em torno de um tronco de canções… Do reencontro entre ambos nasceu Here Lies Love, um novo ciclo de canções, desta vez ligadas por uma trama narrativa evidente, recordando histórias da vida de Imelda Marcos, a ex-primeira dama filipina. São ao todo 32 canções, ordenadas num formato de CD duplo, cedendo os autores (salvo os raros momentos em que Byrne faz as honras da casa) o protagonismo vocal a uma impressionante lista de cantoras, que vão de Martha Waniwright, Tori Amos, Cindy Lauper ou Kate Piersen (dos B-52’s) a Santigold ou Rosin Murphy, entre muitas outras mais… As canções seguem os mais diversos caminhos, visitando uma multidão de referências tão vasta quanto a que as vozes convocadas podem sugerir. Estão aqui todavia evidentes as marcas tanto da escrita pop de Byrne (de tempero gourmet, aberta a vários horizontes nos géneros e geografias), como ocasionais focos de vitaminas rítmicas, cortesia de Fatboy Slim (estas últimas concentradas sobretudo no segundo disco). A ideia de usar vozes diferentes de canção a canção impede a definição do sentido de maior coesão que o ciclo pede, o que não nos impede de aqui escutar algumas pérolas, da elegante teatralidade de Rose Of Tacloban (por Martha Wainwright) aos ecos da folia disco em Ladies in Blue (com Theresa Anderson), sem esquecer o magnífico Please Don’t (na voz de Santigold).
David Byrne + Fatboy Slim
“Here Lies Love”
Nonesuch / Warner
3 / 4
Para saber mais: site oficial
Damon Albarn é um dos nomes centrais no panorama da música popular dos últimos 20 anos, aos Blur tendo acrescentado na última década uma série de experiências e desafios que não apenas alargaram os horizontes da sua visão musical como dele fizeram um dos mais bem sucedidos criadores pop do nosso tempo. Os Gorillaz, com discografia que remonta a 2001, começaram por representar um terreno de abertura da sua escrita a outros territórios, nomeadamente em latitudes hip hop e dub. Uma aventura suportada por personagens criadas em conjunto com o desenhador Jamie Hewlett, os Gorillaz revelaram-se num dos primeiros grandes fenómenos globais da idade da Internet, os vídeos juntando uma existência física a uma realidade pop que, nascida no estúdio, acabou por passar pelo palco… Houve segundo álbum, remisturas, digressão e mesmo um documentário. E quando este parecia ser um capítulo arquivado (com o colectivo The Good The Bad And The Queen, uma ópera e uma reunião dos Blur a representar novos e entusiasmantes episódios na obra de Damon Albarn), eis que os Gorillaz regressam. Plastic Beach é contudo o menos surpreendente de todos os discos que Albarn criou fora dos Blur. Talvez mesmo o menos interessante de todos os seus discos (o que não é sinónimo de mau, que a bitola de comparação está neste músico muito acima da média). Seguindo um caminho com afinidade evidente para com a obra anterior do projecto, herda traços da experiência de Monkey: Journey To The West (no trabalho com orquestras e com músicos de outras latitudes), é instrumentalmente (muito) competente, apresenta um elenco de puro luxo (Lou Reed, Mark E. Smith, Mos Def, De La Soul, Snoop Dogg)… Mas falta-lhe a visão pop dos álbuns anteriores e a versatilidade de caminhos que fazia de Gorillaz e Demon Days verdadeiros festins de surpresa. Há contudo instantes memoráveis, das colaborações com Mark E. Smith ou Lou Reed, ao lounge solarengo de To Binge ou ao perfeito rebuçadinho pop que se serve no delicioso On Melancholy Hill. Não é um álbum em piloto-automático… Mas está algo aquém do efeito estimulante que esses dois discos haviam lançado.
Gorillaz
“Plastic Beach”
Parlophone / EMI Music
3/5
Para ouvir: MySpace
Surgiram numa universidade no Texas, na recta final dos noventas, com o jazz na linha do horizonte. O tempo conduziu o colectivo Midlake por outros caminhos, levando-os a reencontrar em raízes folk a ideia central para uma personalidade que, entretanto, foram expressando e registando em disco. The Courage Of Others é o terceiro álbum que editam e, em tudo, revela-se como um herdeiro natural do anterior The Trials Of Van Occupanther (de 2006). A capa, ao que parece inspirada pelo clássico Andrei Rubliev (um dos mais espantosos momentos da filmografia de Andrei Tarkovsky), lança o clima melancólico que a música depois completa. As composições são povoadas por ecos de memórias da folk britânica de finais de 60 e inícios de 70, revelando ocasionalmente marcas instrumentais de algum interesse por algumas das primeiras manifestações do som progressivo. As canções sucedem-se, mantendo o ambiente que desde logo é definido em Acts Of Man, a voz de Tim Smith assumindo desde logo um protagonismo que acaba por se revelar uma das características mais evidentes em todo o alinhamento. O problema maior de um disco de escrita delicada, formas apuradas e cenários bem estruturados reside precisamente num registo vocal que, não apenas demasiado presente, parece pouco interessado em caminhar para lá de um fino trilho pelo qual avança, canção atrás de canção… Ou se gosta… Ou acaba por cansar.
Midlake
“The Courage Of Others”
Bella Union / Nuevos Medios
3 / 5
Para ouvir: MySpace
É importante reconhecer o papel da “família” Kistouné no panorama de uma música pop alternativa dançável (com frequentes incursões pelo electro) dos anos zero… Grandes singles (e mesmo bandas) ali tiveram primeiros e importantes pólos de exposição, o selo desta pequena editora francesa representando ainda um certo efeito de cartão de visita… Os Two Door Cinema Club são um dos mais recentes casos a conhecer ali uma rampa de lançamento. Vêm da Irlanda do Norte, são um trio e abdicaram do rumo que a sua vida universitária parecia indicar em favor de uma aposta na música. Apresentaram-se numa sucessão de singles que foram editando ao longo de 2009, neles revelando uma música angulosa, dançável, claramente inspirada por referências britânicas que, nos anos zero, recuperaram a intensidade de heranças pós-punk em novo contexto. Na hora de apresentar o álbum, porém, pouco mais mostram no alinhamento que uma espécie de primos menos inspirados dos singles, lançados entre os temas que tinham apresentado nesse formato no ano passado. Mas na verdade o que mais de destaca ao escutar Tourist History não é a falta de par para a eficácia pop dançável de um I Can Talk ou o brilho pop de um Something Good Can Work, mas antes o facto de todo o disco se fechar num espaço limitado de ideias, a repetição de modelos sugerindo um tédio que, ausente nos singles, quase afoga o álbum…
Two Door Cinema Club
“Tourist History”
Kistouné / Nuevos Medios
2 / 5
Para ouvir: MySpace
Também esta semana:
Lady Gaga (remixes), Andreas Scholl, White Stripes (CD + DVD), Osvaldo Golijov, Brad Mehldau, Glee (banda Sonora), Jagga Jazzist, Love Is All, Mick Karn, New Young Pony Club
Brevemente:
22 de Março: Ruby Suns, Goldfrapp, Autechre, Colourfield (reedição), She & Him, Galaxie 500 (reedições), Xiu Xiu, Black Rebel Motorcycle Club, Orelha Negra
29 de Março: Madonna (CD + DVD), Duran Duran (reedições), Johnny Cash, Anna Netrebko, Bright Eyes + Neva Dinova,
5 de Abril: Rufus Wainwright, Jonsi Birgisson, She + Him, Ultravox (live), Triffids (best of)
Abril: MGMT, We Have Band, Apples In Stereo, Trans AM, Paul Weller, Caribou, Frankie Goes To Holliwood (reedição), Nathalie Merchant, Arcadia (reedição), Recoil, Jimmy Sommerville, Melissa Etheridge
Maio: Rolling Stones (Exile On Main St. Reedição), Broken Social Scene, Smashing Pumpkins, New Pornographers, The Fall, The National
PS. O texto sobre o disco de David Byrne e Fatboy Slim é uma versão editada de um outro originalmente publicado na revista NS.