É caso para dizer, se possível cantando: New York, New York... Woody Allen está de volta à sua cidade — este texto foi publicado no Diário de Notícias (4 de Fevereiro), com o título 'O mapa dramático de Nova Iorque'.
Não era fácil traduzir o título do novo filme de Woody Allen, Whatever Works. Em todo o caso, a opção portuguesa, Tudo Pode Dar Certo, é mais um desastroso exemplo do modo como (não) se dá atenção às especificidades das obras lançadas nas salas. A expressão original remete para uma sensação de desencanto, claramente reflectida no cartaz do filme com Larry David de braços abertos e expressão mais ou menos resignada. Como quem diz: “a vida é feita de coisas cruéis e imprevisíveis e quase nada dá certo; por isso, o que der certo... será benvindo”.
Este é um conto filosófico sobre as agruras do envelhecimento, com o novaiorquino Boris Yelnikoff (Larry David) a afirmar-se como uma das mais delirantes figuras da galeria de misantropos do cinema de Woody Allen (quase todos assumidos pelo próprio, convém recordar). Desde a sua relação com a jovem Melodie (Evan Rachel Wood), que lhe aparece à porta a pedir alimento e guarida, até às discussões existenciais com os amigos do bairro, passando pela secura emocional com que trata as crianças a quem ensina xadrez, Boris é um poço de agressividade e má disposição. Mas é também alguém de que nos vamos sentindo cada vez mais próximos, porventura cúmplices. Porquê? Porque há nele um desejo de verdade que não pactua com hipocrisias afectivas e cinismos sociais.
São terrenos conhecidos do cinema de Woody Allen. O certo é que já há algum tempo não o víamos filmar com tão contagiante energia. De regresso a Nova Iorque (depois de quatro filmes rodados na Europa), Wody Allen reencontra o seu mapa dramático, relançando de forma brilhante o tema de sempre: o modo como as palavras que trocamos uns com os outros são também o sinal da solidão que habita cada um de nós.
Não era fácil traduzir o título do novo filme de Woody Allen, Whatever Works. Em todo o caso, a opção portuguesa, Tudo Pode Dar Certo, é mais um desastroso exemplo do modo como (não) se dá atenção às especificidades das obras lançadas nas salas. A expressão original remete para uma sensação de desencanto, claramente reflectida no cartaz do filme com Larry David de braços abertos e expressão mais ou menos resignada. Como quem diz: “a vida é feita de coisas cruéis e imprevisíveis e quase nada dá certo; por isso, o que der certo... será benvindo”.
Este é um conto filosófico sobre as agruras do envelhecimento, com o novaiorquino Boris Yelnikoff (Larry David) a afirmar-se como uma das mais delirantes figuras da galeria de misantropos do cinema de Woody Allen (quase todos assumidos pelo próprio, convém recordar). Desde a sua relação com a jovem Melodie (Evan Rachel Wood), que lhe aparece à porta a pedir alimento e guarida, até às discussões existenciais com os amigos do bairro, passando pela secura emocional com que trata as crianças a quem ensina xadrez, Boris é um poço de agressividade e má disposição. Mas é também alguém de que nos vamos sentindo cada vez mais próximos, porventura cúmplices. Porquê? Porque há nele um desejo de verdade que não pactua com hipocrisias afectivas e cinismos sociais.
São terrenos conhecidos do cinema de Woody Allen. O certo é que já há algum tempo não o víamos filmar com tão contagiante energia. De regresso a Nova Iorque (depois de quatro filmes rodados na Europa), Wody Allen reencontra o seu mapa dramático, relançando de forma brilhante o tema de sempre: o modo como as palavras que trocamos uns com os outros são também o sinal da solidão que habita cada um de nós.