De que falamos quando falamos da economia do cinema? Infelizmente de muito pouco, de tal modo o infantilismo "cinéfilo" se sobrepôs à reflexão sobre os mecanismos de produção — este texto integrava um dossier do Diário de Notícias sobre as contas da indústria made in USA, tendo sido publicado com o título 'Foi você que disse Orson Welles?'.
Há 35 anos, defender o filme Tubarão dava direito a condenação ideológica: quem se atrevesse a celebrar o talento do realizador, um tal Steven Spielberg, só podia ser um perigoso aliado do “imperialismo americano”… No ano da graça de 2010, em particular na blogosfera, basta sugerir que Avatar talvez não seja a mais brilhante das variações sobre os modelos do cinema de aventuras para se ser acusado de arrogância “anti-popular”. São dois exemplos de sinal contrário (a demonização das receitas ou a legitimação pelas receitas), mas que decorrem de uma mesma visão economicista das actividades humanas.
Reconvertendo os valores das receitas de Avatar (em função da inflação), os seus números correspondem a cerca de um terço de E Tudo o Vento Levou. Considerando o número de bilhetes vendidos, Avatar vai a caminho dos 80 milhões de espectadores, E Tudo o Vento Levou ultrapassou os 200 milhões. Isto para não falarmos dos custos de produção e promoção… Claro que a economia do cinema é um factor importante na abordagem (histórica, jornalística, crítica) do cinema. Mas a sua análise nada tem a ver com o infantilismo reinante (inclusive em alguns discursos jornalísticos) que faz dos números das bilheteiras uma sinistra arma de arremesso.
Talvez, um dia, os especialistas de tais práticas insultuosas ganhem coragem e nos garantam que, afinal, O Mundo a Seus Pés (1941), de Orson Welles, é um filme medíocre. De facto, foi um apoteótico falhanço comercial, tendo rendido nas salas americanas pouco mais de um milhão e meio de dólares. Como actualizar esse valor? Pois bem, há uma tabela para uma centena de títulos, mas na lista geral de receitas o filme de Welles surge no lugar nº… 5395. Na prática, isso quer dizer que O Mundo a Seus Pés é mil vezes “pior” que Avatar. Mais coisa, menos coisa.
Há 35 anos, defender o filme Tubarão dava direito a condenação ideológica: quem se atrevesse a celebrar o talento do realizador, um tal Steven Spielberg, só podia ser um perigoso aliado do “imperialismo americano”… No ano da graça de 2010, em particular na blogosfera, basta sugerir que Avatar talvez não seja a mais brilhante das variações sobre os modelos do cinema de aventuras para se ser acusado de arrogância “anti-popular”. São dois exemplos de sinal contrário (a demonização das receitas ou a legitimação pelas receitas), mas que decorrem de uma mesma visão economicista das actividades humanas.
Reconvertendo os valores das receitas de Avatar (em função da inflação), os seus números correspondem a cerca de um terço de E Tudo o Vento Levou. Considerando o número de bilhetes vendidos, Avatar vai a caminho dos 80 milhões de espectadores, E Tudo o Vento Levou ultrapassou os 200 milhões. Isto para não falarmos dos custos de produção e promoção… Claro que a economia do cinema é um factor importante na abordagem (histórica, jornalística, crítica) do cinema. Mas a sua análise nada tem a ver com o infantilismo reinante (inclusive em alguns discursos jornalísticos) que faz dos números das bilheteiras uma sinistra arma de arremesso.
Talvez, um dia, os especialistas de tais práticas insultuosas ganhem coragem e nos garantam que, afinal, O Mundo a Seus Pés (1941), de Orson Welles, é um filme medíocre. De facto, foi um apoteótico falhanço comercial, tendo rendido nas salas americanas pouco mais de um milhão e meio de dólares. Como actualizar esse valor? Pois bem, há uma tabela para uma centena de títulos, mas na lista geral de receitas o filme de Welles surge no lugar nº… 5395. Na prática, isso quer dizer que O Mundo a Seus Pés é mil vezes “pior” que Avatar. Mais coisa, menos coisa.