
Há 35 anos, defender o filme Tubarão dava direito a condenação ideológica: quem se atrevesse a celebrar o talento do realizador, um tal Steven Spielberg, só podia ser um perigoso aliado do “imperialismo americano”… No ano da graça de 2010, em particular na blogosfera, basta sugerir que Avatar talvez não seja a mais brilhante das variações sobre os modelos do cinema de aventuras para se ser acusado de arrogância “anti-popular”. São dois exemplos de sinal contrário (a demonização das receitas ou a legitimação pelas receitas), mas que decorrem de uma mesma visão economicista das actividades humanas.

Talvez, um dia, os especialistas de tais práticas insultuosas ganhem coragem e nos garantam que, afinal, O Mundo a Seus Pés (1941), de Orson Welles, é um filme medíocre. De facto, foi um apoteótico falhanço comercial, tendo rendido nas salas americanas pouco mais de um milhão e meio de dólares. Como actualizar esse valor? Pois bem, há uma tabela para uma centena de títulos, mas na lista geral de receitas o filme de Welles surge no lugar nº… 5395. Na prática, isso quer dizer que O Mundo a Seus Pés é mil vezes “pior” que Avatar. Mais coisa, menos coisa.