Que aconteceu nos tempos de Casablanca? Que está a acontecer entre Avatar e Estado de Guerra? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (3 de Fevereiro), com o título 'Memórias do tempo de "Casablanca"'.
A novidade dos dez nomeados para melhor filme vai dominar estes Oscars. Novidade relativa, entenda-se, já que essa foi uma prática comum até 1943, quando ganhou Casablanca, de Michael Curtiz, num ano em que a lista incluía O Céu Pode Esperar, de Ernst Lubitsch, Sangue, Suor e Lágrimas, de Noel Coward e David Lean, e Consciências Mortas, de William A. Wellman.
Poderemos perguntar quantos dos dez nomeados de 2010 aguentam o paralelismo com os de há 67 anos. Mas corremos o risco de nos enredarmos no infantilismo da blogosfera, com os filmes reduzidos aos milhões das tesourarias e o pensamento a esgotar-se na escolha do “melhor” insulto para atingir o parceiro do lado. O que está em jogo, além de economicamente muito diferente, pertence a outra conjuntura simbólica. Em meados dos anos 40, Hollywood era uma metódica máquina de produção, organizada em torno dos seus géneros (comédia, melodrama, musical, etc.) e das suas estrelas. Agora, existe como ponto de fuga imaginário de um cinema espartilhado em muitos modelos de produção e outras tantas estratégias narrativas e tecnológicas.
A nova abundância de nomeados pode nem sequer ajudar a cumprir um objectivo primordial da cerimónia de 7 de Março: o reforço das audiências televisivas. Em todo o caso, a Academia de Hollywood tenta, assim, celebrar a sua própria diversidade. E se é verdade que o essencial da competição se vai polarizar entre Avatar e Estado de Guerra, então a escolha dos cerca de seis mil membros da Academia será entre duas vertentes muito fortes: uma produção ancorada no futurismo tecnológico ou um cinema ligado ao presente através do património clássico das narrativas. Uma coisa é certa: ganhe quem ganhar, Hollywood nunca condenará os vencidos. E essa é uma boa moral cinematográfica.
A novidade dos dez nomeados para melhor filme vai dominar estes Oscars. Novidade relativa, entenda-se, já que essa foi uma prática comum até 1943, quando ganhou Casablanca, de Michael Curtiz, num ano em que a lista incluía O Céu Pode Esperar, de Ernst Lubitsch, Sangue, Suor e Lágrimas, de Noel Coward e David Lean, e Consciências Mortas, de William A. Wellman.
Poderemos perguntar quantos dos dez nomeados de 2010 aguentam o paralelismo com os de há 67 anos. Mas corremos o risco de nos enredarmos no infantilismo da blogosfera, com os filmes reduzidos aos milhões das tesourarias e o pensamento a esgotar-se na escolha do “melhor” insulto para atingir o parceiro do lado. O que está em jogo, além de economicamente muito diferente, pertence a outra conjuntura simbólica. Em meados dos anos 40, Hollywood era uma metódica máquina de produção, organizada em torno dos seus géneros (comédia, melodrama, musical, etc.) e das suas estrelas. Agora, existe como ponto de fuga imaginário de um cinema espartilhado em muitos modelos de produção e outras tantas estratégias narrativas e tecnológicas.
A nova abundância de nomeados pode nem sequer ajudar a cumprir um objectivo primordial da cerimónia de 7 de Março: o reforço das audiências televisivas. Em todo o caso, a Academia de Hollywood tenta, assim, celebrar a sua própria diversidade. E se é verdade que o essencial da competição se vai polarizar entre Avatar e Estado de Guerra, então a escolha dos cerca de seis mil membros da Academia será entre duas vertentes muito fortes: uma produção ancorada no futurismo tecnológico ou um cinema ligado ao presente através do património clássico das narrativas. Uma coisa é certa: ganhe quem ganhar, Hollywood nunca condenará os vencidos. E essa é uma boa moral cinematográfica.