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Há dias, numa pesquisa de clássicos de Hollywood, encontrei a foto de Margaret Sullavan aqui reproduzida. Foi uma actriz brilhante cujo nome está ligado a alguns títulos admiráveis como Paz na Guerra (King Vidor, 1935), Três Camaradas (Frank Borzage, 1938) ou A Loja da Esquina (Ernst Lubitsch, 1940). Nunca ganhou um Oscar (teve uma única nomeação, com o filme de Borzage) e nunca passou de uma estrela discreta. A sua vida privada foi muito atribulada, com quatro casamentos, o primeiro dos quais, com Henry Fonda, durou apenas dois meses. Morreu acidentalmente, devido a um excesso de barbitúricos, no dia 1 de Janeiro de 1960, contava 50 anos.
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Hoje em dia, são cada vez menos aqueles (e aquelas) que têm esse privilégio iconográfico e, consequentemente, o poder figurativo que daí decorre. O efeito devastador do jornalismo das “celebridades” (ou dos “famosos”, como se instituiu no espaço luso-brasileiro) desvalorizou as fotografias de estúdio, injectando no imaginário do público as fotos mais ou menos anedóticas (“apanhados”) como uma ilustração prática da “fama”. E é significativo que os actores que ainda controlam algo das suas imagens, o façam como uma espécie de exorcismo. Em 2005, por exemplo, Steven Klein fotografou Brad Pitt e Angelina Jolie em ambiente familiar, dando origem a uma espantosa série de imagens com qualquer coisa de desespero simbólico: começava com o par em convívio com os filhos, desembocando em cenas dos dois, sozinhos, encenando rituais de mútua destruição.
Há toda uma nova geração (ou duas) de espectadores educados para encarar o imaginário cinematográfico como um conjunto de referências para usar e deitar fora, e tanto mais quanto o cinema é todos os dias reduzido a uma estúpida competição em torno das receitas nas bilheteiras (observe-se o massacre “noticioso” dos números de Avatar). O que é triste não é tanto o facto de esses mesmos espectadores desconhecerem em absoluto Margaret Sullavan e as peculiaridades do contexto criativo em que o seu nome emergiu. É, isso sim, o triunfo de uma indiferença incapaz de pressentir na sua imagem a apoteose de uma arte e dos seus valores. E está por provar que a possibilidade de conhecer e partilhar essa mesma imagem a partir de um telemóvel (ou qualquer outro gadget) seja, por si só, uma boa escola do olhar.
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STEVEN KLEIN
Brad Pitt e Angelina Jolie
2005
Brad Pitt e Angelina Jolie
2005