sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Em conversa: Pantha du Prince (3/3)

Concluímos hoje a publicação de uma entrevista com Hendrik Weber (ou seja, Pantha du Prince), que serviu de base ao texto ‘Memória de uma derrocada nos Alpes inspira disco’, publicado no DN a 8 de Fevereiro.

A ideia de, um dia, trabalhar com uma orquestra, parece-lhe interessante?
O problema é que a orquestra pode ser, para mim uma fonte de sons algo limitada. Gostaria que uma orquestra estivesse porém aberta à ideia de fazer sons com os instrumentos. Gostaria de o fazer, mas teria de ser com uma orquestra que possa tocar ideias mais imaginativas. Por exemplo, tocar o som de um desmoronamento... Abordar o som de uma forma diferente... Mas isso é para mim algo difícil de imaginar.

Conhece o trabalho que a Deutsche Grammophon tem feito com músicos nas áreas das electrónicas [na série Re-Composed]?
Com o Moritz Von Osvald? Sim, conheço. E gostei muito. Mas eles usaram apenas as velhas gravações de Karajan. Por isso basicamente trabalharam sobre essas gravações.

Gostaria, antes de explorar a orquestra a tocar a sua música, é isso?
Gostaria de contar com uma orquestra como uma fonte de som e não na forma de uma gravação. Mas aquele trabalho que fizeram tem referências muito concretas. É baseado numa obra concreta. Tem mais ver com o reconstruir, com o recompor... São abordagens diferentes à própria história da gravação e dos aparelhos técnicos ao seu serviço. Mas há toda uma outra história associada a tudo o que ali acontece. Eu poderia também fazer recomposições. Mas teria de ter o material certo, o momento certo, a gravação certa e o maestro certo nessa gravação. São muitos aspectos que podem fazer o trabalho ou interessante ou aborrecido. Mas não desafiante nem ajustável a Pantha du Prince. Poderia imaginar-me a trabalhar com uma orquestra que lidasse com as coisas de uma forma moderna. Tenho um primo violoncelista e até cheguei a planear trabalhar com ele e com uma orquestra... Mas por vezes é difícil. A música clássica é outra história... É outro género... É preciso encontrar pessoas com mentalidade aberta.

Uma das imagens do 'booklet' de Black Noise

Sente que há por vezes cepticismo nestas possíveis experiências entre espaços musicais de géneros distintos?
As coisas estão a mudar gradualmente. Estaremos num outro patamar daqui a dez anos. Até porque abre à nova música. Mas no fim tudo isto tem a ver com uma ideia de territorialidade. Os músicos lutam para manter o seu território. Têm sempre um pouco de medo da música pop, da música electrónica, do techno... Há muita gente a vir a concertos e sair para dançar... Nós não temos quaisquer apoios estatais. E para eles importa manter os apoios que têm. Daí terem de manter o sistema vivo...

Há 30 anos havia quem ouvisse os Kraftwerk e dissesse que não era música, que eram máquinas...
Exactamente....

Acredita na mudança...
Temos de ver as complexidades sociais e políticas da música. Há cenas que tentam sobreviver. Tem a ver com selecção... E sobre excluir... Mas há quem esteja aberto... Tenho um amigo que é maestro. Há gente interessante por aí.

O que espera que os anos dez tragam à música?
Espero que consigamos trazer uma noção de espaço para a música. Viver a música como algo que tem um espaço. Como creio que acontecerá nas artes visuais, que vão seguir numa direcção tridimensional. Espero que isso aconteça na música. Que se sinta o som a mudar quando se entra numa sala. Ter a possibilidade de trabalhar o espaço. Trabalhar a tridimensionalidade. E espero que as discotecas e as salas de concerto possam explorar estas possibilidades fazendo da música algo mais físico e mais vivo. Distribuir os sons pelo espaço e criar experiências, abrir novas perspectivas e permitir descobertas.